Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

As terminologias táticas do futebol

13/09/2022 às 14:15.
Atualizado em 13/09/2022 às 14:16

Na semana passada, a imagem de uma palestra do treinador Vanderlei Luxemburgo viralizou na Internet, devido à abordagem acerca de algumas terminologias táticas utilizadas no futebol atualmente. Mas você saberia explicar cada uma destas terminologias? Vamos a isto!

Antes de começarmos, é importante destacar duas coisas. Primeiramente, não assisti a palestra do professor Luxemburgo, não sei qual era o tema, o contexto e nem mesmo o que ele estava a explanar durante aquele slide. Portanto, a minha intenção aqui não é fazer nenhum tipo de análise ou julgamento daquele conteúdo, o que seria muito pretensioso da minha parte. Nesta coluna, colocarei a minha visão/opinião sobre cada um dos termos apontados.

Em segundo lugar, aproveito a oportunidade para uma breve reflexão deste debate sobre nomenclaturas. Infelizmente, ao longo do futebol brasileiro, nossos profissionais, brilhantes em sua maioria, não adquiriram um hábito importante: registrar por escrito seus trabalhos e embasamentos técnicos. A consequência é de que os livros, artigos e outros conteúdos utilizados no passado para os estudos são importados, gerando um choque entre as nomenclaturas do estrangeiro (em especial de Portugal) para com aquelas em que utilizamos de forma empírica no futebol brasileiro. A uniformização do glossário do nosso futebol ainda é um desafio, que começou a ser trabalhado após um artigo publicado pela CBF em 2020. Dito isso, vamos aos termos citados por Luxa.

Amplitude: deve ser entendida como um sub-princípio específico de jogo, definida pela distância entre dois jogadores de uma mesma equipe abertos em largura, ou seja, de uma linha lateral à outra (eixo transversal). Em geral, a sua abertura máxima é utilizada para tornar o “campo grande”, propício para o aparecimento de espaços nos corredores centrais do jogo.

Profundidade: deve ser entendido como um sub-princípio específico de jogo, definido pela distância entre o primeiro e o último jogador de uma mesma equipe horizontalmente posicionada, ou seja, no eixo longitudinal. Tal princípio também é utilizado para tornar o “campo grande”, aumentando o espaço efetivo de jogo da equipe que ataca. Pense, por exemplo, na distância entre o central mais recuado e o atacante mais avançado.

Atacar marcando: o futebol possui quatro momentos de jogo, isto é, organização ofensiva, organização defensiva, transição defensiva e transição ofensiva. Entretanto, esta divisão acontece somente de maneira didática. Na prática, o jogo é contínuo, e os momentos estão interligados em uma ordem não necessariamente sequencial. Portanto, a conexão da forma em que ataca e defende, por exemplo, é fundamental. Daí o termo “atacar marcando”, que reflete a conexão dos comportamentos ofensivos já preparados para facilitar os comportamentos defensivos, em caso da perda da posse de bola. O balanço defensivo, a forma como se posiciona no ataque visando a possível perda da posse, é uma componente do “atacar marcando” (está incluída neste mecanismo).

Criar linha de passe: é um sub-princípio específico que permite que os atletas de uma equipe em organização ofensiva se posicionem para propiciar o avanço das ações com bola. Este conceito evoluiu, na literatura recente, para “Zona de Passe”, ou seja, o jogador que está com a bola poderá transferi-la para o companheiro que conseguir criar esta “Zona de Passe”.

Jogo-apoiado: é um princípio específico no qual os jogadores buscam a criação de Zonas de Passe, em especial no Centro de Jogo (um raio de 9,5m em torno da bola). Algumas bibliografias entendem o Jogo Apoiado como um Macro-Princípio, referindo-se mais a uma forma de jogar/atacar, composta por um maior tempo de duração do ataque, a preferência por passes curtos em benefício da manutenção da posse de bola e uma maior quantidade de passes trocados até a jogada ser finalizada.

Sair da Zona de Pressão: é um princípio específico, no plano meso de jogo, que refere-se ao momento de transição ofensiva da equipe, ou seja, quando ocorre a recuperação da posse de bola. Isto pode ser feito com a troca de corredores, um passe longo, entre outras alternativas, que serão hierarquizadas e treinadas de acordo com a modelação da equipe.

Jogo Reativo: particularmente não gosto desta nomenclatura, disseminada de forma simplista pela imprensa. O jogo de futebol, por si, é composto por situações de cooperação e oposição. Para cada ação de uma equipe, há uma reação do adversário. Isto não significa que uma equipe A poderá adotar uma estratégia de somente “reagir” ao que a equipe B vier a fazer, até porque o jogo é acíclico, caótico e aleatório por natureza, na qual, simultaneamente, as equipes estão em ação e reação durante todo o jogo. Reação não é sinônimo de equipes que optem por linhas de defesa próximas à sua baliza e a utilização de contra-ataques.

Transição ofensiva: não é sinônimo de contra-ataque. É definido pelo momento em que a equipe recupera a posse de bola. Como ressaltado acima, os momentos de jogo são assim definidos somente de maneira didática para facilitar a hierarquização de princípios. Entretanto, na prática e no treino, devem ser considerados em um fluxo contínuo de natureza inquebrantável.

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