Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

Mineirão e o risco de se tornar um elefante branco

Publicado em 06/09/2022 às 06:00.

Assistimos, no último domingo, no confronto entre Cruzeiro e Criciúma, a mais um show de horrores no tratamento do torcedor no Mineirão. Em um momento que tanto se discute o “match day”, "experiências exclusivas”, “ativações” no dia do jogo, entre outras coisas, a Minas Arena, administradora do Estádio, entrega justamente ao contrário do que se prega para uma boa gestão de arenas e eventos esportivos. Parece, ao meu ver, já ter chutado o balde e se conformado com a iminente perda da administração do Mineirão.

Quem tem ido ao Mineirão, nos últimos tempos, seja torcedor do Galo ou da Raposa, tem se deparado com situações constantes de maus tratos ao torcedor. Aquilo que deveria ser uma boa experiência de entretenimento passa a ser uma jornada de sofrimento e tormento. Os serviços do estádio, do começo ao fim, são péssimos, a começar pela dificuldade de estacionamento, que deveria oferecer uma maior quantidade de vagas. Depois, a entrada sempre tumultuada, sem organização, com poucas catracas em funcionamento e despreparo total dos funcionários.

A jornada do consumidor, dentro do Estádio, também não é fácil. Os serviços de bares e restaurantes vão de mal a pior, banheiros imundos e tumultos frequentes. Poderia também citar a incapacidade de oferecer uma internet de qualidade ao torcedor, por Wi-Fi, já que as redes móveis falham costumeiramente no Estádio, mas creio que seja exigir demais. É difícil ter um “torcedor conectado”, registrando a sua experiência com qualidade nas redes sociais.

No último domingo, por incrível que pareça, as coisas pioraram. Claro que o clube mandante também possui certa responsabilidade, haja vista ser quem faz a comercialização dos ingressos. Mas, mais uma vez, os tumultos na entrada quase levaram a uma tragédia, com muito corre-corre, colocando em risco várias crianças.

No ano que vem, 2023, espera-se que o Atlético inaugure sua tão aguardada Arena, que promete ser uma das mais tecnológicas do mundo, com experiências únicas ao torcedor. O Cruzeiro, por sua vez, agora ensaia uma arena própria em Betim, em projeto encampado pelo cruzeirense e prefeito do município, Vittório Medioli. O Mineirão, coitado, poderá ficar a ver navios.

Para piorar o problema do Mineirão, ele também impacta diretamente aos cofres públicos, com repasses milionários que o Governo de Minas precisa fazer. Ou seja, está ruim para quase todo mundo: torcedor, clubes e governo. Menos para a Minas Arena, que continua lucrando em cima de um serviço questionável. E já estava me esquecendo: até o gramado do Mineirão já começou a sentir a situação. Não bastasse atrapalhar o espetáculo fora das quatro linhas, dentro as coisas também começam a degringolar.

É preciso um sacode leão nas autoridades do Estado de Minas Gerais, a começar pela Assembleia Legislativa que, passada a eleição, precisa instalar a CPI que já possui um número mínimo de assinaturas. O Mineirão como está, não dá, e ainda pode piorar. Não podemos permitir que este patrimônio tão histórico se torne um elefante branco para a sua atividade principal de funcionamento: o futebol.

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