Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

A trégua comercial entre Estados Unidos e China devolve o otimismo global

Publicado em 31/10/2025 às 18:25.

O encontro entre os presidentes Donald Trump (EUA) e Xi Jinping (China), realizado nesta quarta-feira, 29 de outubro, em Busan, na Coreia do Sul, marcou o momento que os mercados esperavam há meses, uma trégua na guerra comercial que vinha pressionando as bolsas e investidores. Trump descreveu a conversa como “incrível”. Disse que, numa escala de zero a dez, daria “um doze”, e deixou Busan com o humor de quem acredita ter resolvido o impasse do século.

O acordo foi anunciado como uma trégua. Os Estados Unidos reduziram a tarifa média sobre produtos chineses de 57% para 47%, derrubaram de 20% para 10% as taxas sobre itens ligados ao fentanil e suspenderam as ameaças de novas sobretaxas. Pequim, em troca, vai retomar a compra de soja americana, com 12 milhões de toneladas ainda este ano e 25 milhões anuais até 2028, além de aliviar restrições sobre exportações de terras raras, os minerais estratégicos que sustentam desde semicondutores até mísseis guiados.

O que isso significa para mercados e para o Brasil

A trégua não muda o mundo, mas muda o humor. Ao reduzir tensões, ela devolve previsibilidade ao comércio internacional e alivia a pressão sobre países emergentes, inclusive o Brasil, que ganha algum protagonismo na discussão sobre reservas de terras raras. Especialistas lembram que os Estados Unidos seguem dependentes desses minerais e que, mais cedo ou mais tarde, precisarão diversificar fornecedores. Isso coloca o Brasil no radar estratégico de Washington, o que não é pouca coisa.

A pausa tarifária, porém, tem caráter provisório. O próprio Trump disse que é um acordo anual, mas acredita que vai durar muito tempo. A diplomacia é um jogo de paciência, e Busan serviu para lembrar que a cooperação continua sendo a moeda mais valiosa do planeta.

Powell esfria os ânimos (de novo)

Na mesma quarta-feira, o Banco Central americano anunciou um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros, reduzindo a faixa para 3,75% a 4,00%. Enquanto Trump e Xi posavam para fotos diplomáticas e o mundo respirava aliviado com a trégua comercial, Jerome Powell tratou de lembrar que o glamour geopolítico não paga as contas. O presidente do Federal Reserve (Fed) esfriou o entusiasmo e reduziu as chances de um novo corte em dezembro, afirmando que ainda não há segurança suficiente para seguir adiante na flexibilização monetária.

O voto dissidente de Jeffrey Schmid, do Fed de Kansas City, a favor de manter as taxas, foi o tempero da reunião e serviu como lembrete de que nem mesmo dentro do Comitê há consenso sobre o rumo da política monetária. Powell disse que talvez seja hora de dar um passo atrás e avaliar se o crescimento recente é sustentável, frase que bastou para o mercado revisar suas certezas. As apostas em corte, que passavam de 90%, despencaram para 63%.

Bolsa brasileira em novo recorde histórico

As notícias trouxeram otimismo aos países emergentes, especialmente ao Brasil, que mantém os juros nas alturas e continua atraindo fluxo de capital estrangeiro. Hoje o principal índice da B3 atingiu um novo recorde histórico, chegando a 149.635 pontos na máxima do dia. O avanço, sustentado por uma sequência de sete pregões positivos, refletiu o bom humor global com a trégua comercial e os sólidos resultados corporativos de grandes empresas brasileiras, como a Vale.

O movimento parece mais de alívio do que de euforia. Os investidores aproveitaram o cenário para consolidar posições, ainda atentos às incertezas sobre os juros americanos e à capacidade de o Brasil sustentar o ritmo de valorização nas próximas semanas.

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