Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Decreto na mesa: os próximos passos do Brasil contra a tarifa de Trump

14/07/2025 às 14:36.
Atualizado em 14/07/2025 às 14:38

Diante da ameaça de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada por Donald Trump, o governo brasileiro optou por manter a calma. Em vez de responder com impulsividade, escolheu o caminho da racionalidade e da estratégia. Nesse contexto, quem acabou ganhando protagonismo foi o vice-presidente Geraldo Alckmin, que assumiu o papel de articulador de uma frente técnico-política para lidar com o impasse.

(Reprodução/redes sociais)

(Reprodução/redes sociais)

Na sexta-feira, 11 de julho, Alckmin foi designado para liderar um comitê com representantes dos setores mais afetados, como agronegócio, indústria e aviação (com a Embraer no radar), para traçar estratégias contra a sobretaxa americana. Já no domingo, 13, ele se reuniu com o presidente Lula no Palácio da Alvorada, acompanhado dos ministros Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann, Carlos Fávaro e Sidônio Palmeira, além do líder do governo no Senado, Jaques Wagner. 

Alckmin classificou a medida como “totalmente equivocada”, lembrando que o Brasil adota uma tarifa média de apenas 2,7% sobre produtos americanos. E reforçou, os “EUA têm déficit comercial com o Brasil, dos dez produtos que mais exportam para cá, oito não pagam imposto”. Em resumo, faltaria base econômica para justificar uma medida tão agressiva.

Decreto de reciprocidade: resposta com base na lei

Agora, a reação brasileira começa a ganhar contornos legais. Até terça-feira, 15 de julho, o governo deve publicar o decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada em abril pelo Congresso. A nova norma permite ao país aplicar medidas equivalentes contra nações que imponham sanções unilaterais, como é o caso da tarifa de Trump.

Mais que uma simples retaliação, a estratégia jurídica busca reforçar a imagem de que o Brasil respeita os princípios de proporcionalidade, legalidade e previsibilidade. Espera-se ainda que o Congresso participe da definição de critérios, prazos e setores que poderiam ser alvo de medidas, o que reforçaria a legitimidade da resposta e mostraria
coesão institucional.

Se as tarifas forem mesmo implementadas a partir de 1º de agosto, o Brasil estará pronto para reagir com firmeza, mas dentro das regras do jogo. 

Mal-estar entre os BRICS

No meio dessa construção diplomática, surgiu um ponto de atenção, Lula admitiu que não sabia que alguns países aliados do BRICS haviam iniciado conversas diretas com Trump sobre o tema das tarifas. A confissão, feita em entrevista recente, surpreendeu pela franqueza e revelou um ponto sensível a falta de alinhamento dentro de um bloco que se apresenta como unido e multipolar. 

O episódio expôs uma realidade incômoda, na prática, os interesses econômicos falam mais alto do que os discursos em bloco. A relação comercial de cada país com os Estados Unidos é única, e isso dificulta ações conjuntas. Esperar que os BRICS reajam juntos contra as tarifas é mais um desejo idealista do que algo realmente viável na prática.

O que esperar dos próximos dias

O intervalo entre a publicação do decreto e a data-limite imposta pelos EUA, 1º de agosto, será crucial. Nesse período, o mercado atua com cautela, mas mantém olhos e ouvidos bem atentos aos desdobramentos. Por ora, ninguém quer se precipitar nem assumir riscos desnecessários.

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