Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Dois bancos americanos assustam Wall Street, e Brasil reata conversas com os EUA

Publicado em 18/10/2025 às 06:30.
 (Freepik)

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O mercado financeiro internacional voltou a testar os nervos dos investidores. Dois bancos regionais dos Estados Unidos, o Western Alliance e o Zions, divulgaram perdas ligadas a empréstimos sob suspeita de fraude e, como costuma acontecer, bastou uma fagulha para acender o sinal de alerta. O chamado “índice do medo”, o VIX, disparou 20%, refletindo a sensação de que o sistema financeiro pode estar novamente pisando em terreno instável.

O episódio reviveu lembranças da crise bancária de 2023, quando instituições como o Silicon Valley Bank e o First Republic desmoronaram em sequência. Jamie Dimon, do JPMorgan, resumiu o sentimento em uma frase que virou manchete, “quando se vê uma barata, provavelmente há outras”. O ouro subiu a níveis recordes e os investidores buscaram abrigo em títulos do Tesouro americano, como quem fecha as janelas antes da tempestade.

Brasil e Estados Unidos retomam o diálogo

Em Washington, o chanceler Mauro Vieira classificou o encontro com o secretário de Estado americano como “um começo auspicioso”. Segundo ele, há disposição de ambos os lados para reabrir canais de cooperação, e uma reunião entre Lula e Trump deve ocorrer em breve, talvez durante a Cúpula da Asean, na Malásia.

Os Estados Unidos têm interesse especial nas chamadas “terras raras”, minerais estratégicos para a transição energética. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou que o Brasil criará um conselho dedicado ao tema e que, nas próximas semanas, discutirá oportunidades de parceria com o governo americano. Há, portanto, um campo fértil para negociações, desde que a política brasileira consiga oferecer previsibilidade, artigo cada vez mais escasso.

O desafio fiscal persiste

No cenário doméstico, o governo ainda tenta recompor a arrecadação após a derrota da Medida Provisória do IOF. A falta de consenso no Congresso e o risco de um déficit maior em 2026 aumentam a preocupação com a trajetória fiscal. O mercado, naturalmente, reage, a curva de juros segue pressionada e a aposta é de que a Selic permanecerá elevada por mais tempo do que o desejado.

O Banco Central mantém o discurso de prudência. O diretor Nilton David afirmou em evento que “não há espaço para reagir a ruídos”, reforçando a ideia de que o Copom só reduzirá juros quando estiver convencido de que as expectativas de inflação estão consolidadas.

Dólar: leve recuo e acomodação

Na semana, o dólar comercial oscilou entre R$ 5,52 e R$ 5,40. Embora tenha havido momentos de leve fraqueza da moeda americana, o dólar ainda demonstra resistência estrutural. O movimento da sexta-feira passada foi atípico e gerou “stops” entre os grandes participantes do mercado. Por isso, é natural e saudável, essa correção até o nível de preço que originou o gatilho do forte movimento de alta.

Essa aparente estabilidade revela o equilíbrio precário entre pressões externas (juros globais, fluxos internacionais) e estímulos internos (expectativa de ingresso de capital estrangeiro e alívio macroeconômico) a se confirmar até o fim do mês de outubro.

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