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Enquanto Estados Unidos e Europa reduzem barreiras comerciais, e a China avança nas tratativas com Washington, o Brasil continua no cantinho da sala, observando de longe, com cara de quem não foi chamado pro recreio. Os EUA anunciaram que países sem acordo comercial até sexta-feira serão taxados entre 15% e 20%. Já o Brasil, ao que tudo indica, vai direto para o combo completo: 50%. As chances de evitar a tarifa sobre produtos brasileiros parecem cada vez mais remotas.
Uma comitiva de senadores brasileiros está em Washington em busca de interlocução direta com autoridades americanas. Jaques Wagner, líder do governo no Senado, chegou a ligar nessa segunda-feira (28) para Bush e fez um apelo para que ajudasse na aproximação. Os parlamentares também solicitaram à Câmara de Comércio dos EUA apoio para viabilizar uma ligação entre os presidentes Lula e Trump.
O chanceler Mauro Vieira, que está em Nova York, se colocou à disposição para viajar a Washington nos próximos dias, caso haja qualquer sinalização de interesse por parte da Casa Branca. Até agora, no entanto, não há nenhuma reunião marcada nem previsão de conversa direta com o governo americano.
Do lado de cá, quem parece estar torcendo contra é o Eduardo Bolsonaro, que ironizou os esforços diplomáticos do governo como se fossem uma excursão estudantil. Disse que, do jeito que vai, só daqui a alguns anos os senadores conseguirão algum acesso em Washington. E ainda prometeu boicotar qualquer tentativa de aproximação se “certas pendências judiciais” não forem resolvidas.
Segundo relato do senador Carlos Viana, um dos entraves mais sensíveis nas conversas tem sido a posição do Brasil dentro dos Brics. Na última reunião do Brics, Lula sugeriu reduzir a dependência do dólar. Coincidência ou não, desde então, a mesa de negociação com os EUA ficou mais distante. Ainda assim, o governo brasileiro mantém o discurso de que está aberto à negociação, e reafirma que o país é parceiro estratégico e confiável.
Como plano de contingência, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já apresentou a Lula propostas para amparar os setores mais atingidos pela eventual tarifação. Mas a ordem é aguardar até o último momento antes de acionar qualquer medida de retaliação ou socorro. Entre elas, a possível quebra de patentes farmacêuticas, assunto trazido aqui por mim na coluna do dia 21/07 (Visto negado: Brasil e EUA em clima de Guerra Fria 2.0).
Em meio à rigidez da política comercial americana, surgiu um ponto de alívio. O USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) avalia flexibilizar a tarifa para produtos agrícolas que não são produzidos localmente, como frutas tropicais, café e suco. A medida, se confirmada, beneficiaria diretamente o agronegócio brasileiro.
O governo também trabalha para tentar excluir a Embraer da lista de empresas atingidas. Com essa notícia, as ações da empresa fecharam hoje em alta de 3,62%.
Em um mundo onde os acordos bilaterais avançam com rapidez, a busca do Brasil por um espaço à mesa ainda pode render frutos. E é por isso que o mercado opera em compasso de espera, praticamente controlando a exposição e a emoção sem movimentos bruscos.