A tensão entre Executivo e Congresso ganhou mais um capítulo digno de novela política, com a possível judicialização do decreto do IOF. Em entrevista à GloboNews, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desabafou: o governo teria enviado “seis ou sete medidas” ao Congresso para equilibrar o Orçamento de 2024, as quase nada
foi bem recebido. O recado ficou claro, o clima no Congresso não anda exatamente colaborativo.
Enquanto isso, o mercado já opera no modo “faz de conta”, a meta fiscal para 2026, que ninguém leva a sério, continua sendo oficialmente perseguida. Haddad mantém o discurso firme: a meta de superávit de 0,25% do PIB segue viva, embora respirando por aparelhos. Para 2025, a retirada do IOF (que garantiria uma arrecadação extra de R$ 12 bilhões) preocupa, mas a equipe econômica aposta no congelamento de gastos e em receitas extraordinárias para manter o plano de voo.
Durante um evento na Faculdade de Direito da USP, o ministro criticou o que chamou de tentativa de empurrar o peso do ajuste fiscal para os mais pobres. Com uma metáfora direta, afirmou que, quando o debate envolve cobrar os mais ricos, o entusiasmo em ajustar as contas costuma diminuir.
Haddad também se mostrou surpreso com a guinada dos líderes do Congresso. Segundo ele, a reunião do dia 9 de junho terminou com a impressão de que o novo decreto do IOF estava bem encaminhado. Só que depois, como num plot twist, a base legislativa mudou de tom, e ninguém avisou o ministro.
Segundo apuração da jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor, o presidente Lula considerou que o Congresso invadiu competências do Executivo ao derrubar o decreto do IOF, e cogita levar a briga ao Supremo. A AGU (Advocacia-Geral da União, instituição responsável por representar a União Federal em questões judiciais e extrajudiciais, além de prestar consultoria e assessoria jurídica ao Poder Executivo) já foi acionada para avaliar a constitucionalidade da decisão parlamentar.
O PSOL saiu na frente e protocolou sua própria ação no STF. O caso, que começou com o ministro Gilmar Mendes, pode acabar nas mãos de Alexandre de Moraes, relator de um processo semelhante. Interlocutores dizem que Lula pretende manter o recurso jurídico, mas ainda avalia uma reaproximação com os presidentes da Câmara e do Senado. Ou seja: mais um impasse à brasileira, onde o Judiciário vira árbitro do que era para ser político.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump voltou a defender sua política tarifária, cujo período de suspensão se encerra no dia 9 de julho, e Trump avisou: quem não tiver acordo, vai pagar. Em entrevista à Fox News, ele afirmou que os EUA já fecharam acordos com China e Reino Unido, e que a Índia está na fila. O Canadá,
por outro lado, está fora das negociações após desentendimentos sobre tributação de serviços digitais.
O recado foi reforçado pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, que prometeu anunciar novos acordos até a data-limite. Caso contrário, 20 países podem voltar a ser taxados com tarifas de até 25%. Para Trump, é uma questão de proteger a economia americana. Para os outros, mais uma rodada de tensão comercial.
Enquanto Brasília debate se é o Congresso ou o STF quem dita o rumo da política fiscal, Washington retoma sua postura firme nas negociações comerciais. Nos dois casos, os desdobramentos mexem com os mercados e os nervos de quem acompanha de perto. Porque, no fim das contas, equilíbrio mesmo... só nas planilhas de PowerPoint.