Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Mercados operam no escuro sem dados nos EUA e com pressão fiscal no Brasil

Publicado em 06/10/2025 às 08:50.

A nova semana começa com os mercados pisando em terreno incerto. Enquanto os dados da economia americana não são divulgados, os olhares se voltam para os discursos dos dirigentes do Federal Reserve. O presidente Jerome Powell fala na quinta-feira, e vários outros membros do comitê se revezam ao longo da semana, tentando oferecer algum norte. O mercado, por sua vez, já precifica, com alta probabilidade, um corte de juros até o fim do ano, ainda que o cenário esteja repleto de incertezas.

Sem o relatório de emprego (payroll), suspenso por causa do shutdown, o mercado se apoia em pistas indiretas, como o indicador econômico dos Estados Unidos que mede a variação do emprego no setor privado não agrícola, chamado ADP, uma importante "prévia" do payroll, que mostrou corte de 32 mil vagas no setor privado. Ainda assim, há consenso de que o Fed seguirá cauteloso, mantendo o discurso de prudência diante de uma inflação que insiste em não ceder de vez.

Brasília em Movimento
No Brasil, a agenda política e econômica continua cheia. O presidente Lula viaja ao Maranhão para entregar quase três mil moradias do programa Minha Casa, Minha Vida, enquanto aguarda a definição de um encontro com Donald Trump para tratar das tarifas aplicadas pelos Estados Unidos. O vice-presidente Geraldo Alckmin tenta manter o tom diplomático e ressalta os avanços já obtidos em setores como celulose, ferro-níquel e madeira serrada, apontando para um possível alívio gradual nas barreiras comerciais.

Congresso em Clima de Definições
No Senado, a pauta gira em torno da votação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, já aprovada de forma unânime pela Câmara. A expectativa é de que o texto avance sem alterações. Também deve avançar a discussão sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), enquanto a oposição busca espaço para retomar o debate sobre o projeto da Anistia, tema que promete mobilizações em Brasília nos próximos dias.

Sinal Amarelo no Risco Fiscal e Verde na Indústria.
De maneira geral, os investidores voltam a demonstrar desconforto com o risco de medidas de caráter mais populista. A ampliação da faixa de isenção do imposto de renda e a proposta de zerar tarifas do transporte urbano levantaram preocupações sobre o impacto fiscal e possíveis reflexos inflacionários. Ao mesmo tempo, o dado de produção industrial de agosto surpreendeu positivamente, crescendo 0,8% e superando as expectativas. A notícia trouxe algum alívio, mas ainda não foi suficiente para mudar a percepção de que o Banco Central deve adiar novos cortes de juros. O Santander, contudo, reduziu suas projeções de inflação para este ano e para 2026, indicando que o processo de desinflação, embora lento, continua em andamento.

Conclusão: Uma Semana que Testa a Paciência
Com parte do mundo em feriado, parte em disputa política e o restante tentando interpretar as falas dos FED Boys, a semana começa sob incerteza. A ausência de dados concretos faz com que o mercado reaja mais ao tom das palavras do que aos números. No Brasil, a combinação de cautela fiscal, pressões políticas e surpresas pontuais nos indicadores mantém o clima de atenção e sem apostas ainda em um mercado direcional.

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