
(Agência Brasil)
As relações entre Estados Unidos e China voltaram ao centro das atenções, desta vez por causa de um acordo sobre terras raras que pode finalmente ganhar forma até o Dia de Ação de Graças em 27 de novembro. Washington promete aliviar tarifas que poderiam chegar a cem por cento e, em troca, Pequim deve suspender restrições de exportação. É o tipo de tema que parece técnico, mas afeta desde carros elétricos até a indústria de chips. Se esse capítulo avançar, o mercado tende a ficar menos imprevisível.
Enquanto isso, os Estados Unidos ainda tentam reorganizar o calendário de indicadores atrasados pelo shutdown. Alguns já têm data marcada e outros continuam no limbo estatístico. O famoso payroll de setembro, por exemplo, será divulgado justamente quando o Brasil estará em feriado no dia 20 de novembro, o que sempre adiciona um toque de suspense à abertura dos mercados no dia seguinte. A ata do Fomc e o PMI completam a agenda, junto com as falas dos dirigentes do Fed, que têm sido um exercício coletivo de cautela.
Com os dados atrasados, a chance de um corte de juros em dezembro perdeu força rapidamente. Aos poucos, dirigentes do Fed vêm reforçando que ainda não há espaço para relaxar a política monetária. O mercado ajustou as expectativas e, com isso, os rendimentos das Treasuries subiram. Isso fortaleceu o dólar no mundo todo. A discussão sobre uma possível bolha tech continua no ar, mas não tem sido suficiente para afastar o fluxo de investimento para o setor que aguarda mais resultados das importantes empresas do setor essa semana.
A revisão anunciada pelo governo Trump, que retirou a tarifa básica de 10% sobre importações de produtos agropecuários como carne bovina, banana, café e tomate, provocou algum alívio imediato, mas ficou longe de atender aos principais interesses do Brasil. Operações fechadas a partir do dia 13 já estão livres da tarifa, mas a medida esbarra no ponto decisivo da disputa. A sobretaxa adicional de 40%, aplicada exclusivamente a produtos brasileiros, continua intacta e mantém setores estratégicos em desvantagem clara.
O café se tornou o exemplo mais didático dessa assimetria. Mesmo respondendo por trinta e quatro por cento do mercado americano, o produto brasileiro não apenas permaneceu na lista dos taxados como perdeu terreno para rivais diretos. Colômbia e Vietnã tiveram suas tarifas zeradas e ampliaram o fosso competitivo, situação que levou Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, a afirmar que o Brasil segue fora do jogo.
A decisão americana ocorre na esteira de acordos firmados por Trump com países como Equador, Guatemala, El Salvador e Argentina, voltados a reduzir custos de importação de alimentos em um momento de pressão inflacionária nos Estados Unidos.
Com esse conjunto de fatores, o dólar permanece fortalecido na semana e mantém certa pressão sobre os demais ativos, enquanto a bolsa brasileira acumula uma sequência tão longa de altas que uma correção pontual deixaria de ser surpresa. Depois de tantos pregões firmes, o mercado pode buscar um reequilíbrio natural à medida que os indicadores atrasados nos Estados Unidos forem divulgados e a visibilidade do cenário global voltar ao normal. É o tipo de ajuste que lembra mais uma manutenção necessária do que uma mudança real de tendência, quase como o sistema respirando.