(Valter Campanato / Agência Brasil)
Após uma semana morna, a sexta-feira trouxe o dado mais aguardado da semana, a divulgação do payroll nos Estados Unidos. O relatório de empregos é sempre acompanhado com atenção pelos mercados globais, pois ajuda a indicar o ritmo da maior economia do mundo e, consequentemente, os próximos passos da política monetária americana.
O relatório oficial mostrou a criação de apenas 22 mil vagas em agosto, número bastante inferior às cerca de 75 mil projetadas pelos analistas. A taxa de desemprego avançou para 4,3%, reforçando a leitura de que o mercado de trabalho americano começa a perder fôlego de forma mais clara. A revisão de meses anteriores, incluindo junho, que acabou revelando uma queda líquida de empregos, aumentou a preocupação. Esse conjunto de informações fortalece a expectativa de que o Federal Reserve adote uma postura de corte de juros nas próximas reuniões, buscando evitar que a desaceleração se transforme em recessão.
O efeito foi quase instantâneo. O dólar perdeu força em escala global e, no Brasil, marcou mínimas no menor patamar desde 14 de junho de 2024. O suporte em R$ 5,30 passou a ser monitorado pelos analistas como referência importante de curto prazo. Caso esse nível seja rompido, há espaço técnico para a moeda recuar até R$ 5,10, o que teria reflexo direto sobre as expectativas de inflação e poderia abrir margem para o Banco Central avaliar ajustes no ritmo da política monetária, iniciando cortes de juros já no começo de 2026. Para importadores e para os índices de preços, a queda do dólar funciona como fator de alívio, embora a volatilidade continue sendo uma característica permanente desse mercado.
Enquanto o câmbio recuava, a Bolsa brasileira renovava seu topo histórico, atingindo 143.408 pontos. O movimento foi impulsionado pelo fluxo de capital estrangeiro, que encontrou nos ativos locais uma oportunidade diante da perspectiva de cortes de juros nos Estados Unidos. O diferencial de taxas segue sendo um atrativo relevante, e o ambiente externo mais favorável permitiu ao Ibovespa alcançar esse novo patamar histórico. O avanço não reflete apenas confiança no cenário doméstico, mas, sobretudo, o peso da liquidez internacional em busca de retornos mais elevados, assim que os juros americanos começarem a ser reduzidos.
O novo recorde abriu espaço para discussões sobre a possibilidade de o Ibovespa buscar a região dos 150 mil pontos até o fim do ano. Embora esse cenário seja visto com otimismo por parte dos analistas, todos destacam que a sustentação da tendência dependerá quase exclusivamente da condução da política monetária americana. Em resumo, a influência dos Estados Unidos sobre nossa economia é direta em momentos como este e podemos nos beneficiar dessa maré favorável.
Na próxima semana, falas de membros do Fed devem contextualizar os dados divulgados hoje e indicar os possíveis próximos passos em relação aos juros americanos. Dedos cruzados para que o dólar se firme abaixo dos R$ 5,40 e a Bolsa encontre um direcional mais claro.