Nos Estados Unidos, o governo entrou em um “apagão” parcial, chamado de shutdown. Isso acontece quando o Congresso não aprova o orçamento a tempo, e várias repartições públicas simplesmente param de funcionar. Apenas os serviços mais essenciais, como segurança, continuam ativos. Entre os setores parados está justamente o que cuida da divulgação de dados econômicos importantes. Em outras palavras, a máquina que mostra como anda a economia americana foi desligada por falta de acordo político.
Por causa disso, o tão aguardado Payroll, relatório que mostra quantas pessoas foram contratadas ou perderam o emprego no mês, foi adiado. Esse número é acompanhado de perto no mundo inteiro porque ajuda a prever se os juros nos EUA podem subir ou cair. Sem essa informação, investidores e governos ficam sem referência, como se estivessem tentando dirigir à noite sem farol. O curioso é que uma briga política dentro do Congresso americano acaba atingindo não só os EUA, mas também países como o Brasil, que dependem do humor dos mercados internacionais.
O presidente Donald Trump imediatamente colocou a culpa nos democratas, acusando-os de “fechar o país” por insistirem em exigências como subsídios de saúde que, segundo ele, inviabilizariam um acordo. Também cancelou uma reunião previamente agendada com líderes democratas, alegando que seus pedidos eram “ridículos”, gesto que aumentou a tensão e a polarização do confronto.
Trump ainda advertiu que, se o shutdown se estender, poderá haver demissões permanentes de servidores e corte de programas e projetos que considera “inúteis” ou excessivos. Ele também vem falando em usar receitas de novas tarifas para pagar “reembolsos” à população e reduzir a dívida americana, uma retórica ambiciosa que pode ou não se sustentar na prática. Ou seja, o shutdown não é só problema para ele, está sendo usado de forma estratégica.
No Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que mexe fundo no bolso de milhões de brasileiros, a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. Isso significa que boa parte da classe média baixa, que hoje paga uma fatia do salário ao Leão, ficará livre da mordida. A medida, se confirmada no Senado e sancionada, deve beneficiar algo em torno de 10 milhões de pessoas. Já quem recebe acima desse valor, até R$ 7.350, terá uma redução gradual da alíquota, sentindo algum alívio, ainda que sem a isenção completa.
O pacote é vendido pelo Planalto como um passo em direção à “justiça tributária”, um termo que soa bem em ano de ajuste fiscal e disputa narrativa. Na prática, porém, a mudança ainda levanta dúvidas. Qual será o impacto para o investidor que hoje se beneficia da isenção sobre dividendos? E até que ponto essa redistribuição aliviará de fato o peso sobre quem ganha menos?
Ficamos, portanto, entre dois movimentos opostos, nos Estados Unidos, a falta de dados limita a visibilidade do Fed, no Brasil, sobram iniciativas políticas de impacto econômico. Para o investidor, o recado é de prudência. A travessia continua, mas com faróis mais baixos. A semana que vem deve trazer novas pistas sobre se o mercado seguirá no compasso da cautela ou se voltará a acelerar.