Rafa AnthonyTrader de dólar há 10 anos, professor e especialista em Market Profile, uma poderosa ferramenta de análise do mercado

Superquarta: os Estados Unidos pisam no freio, o Brasil mantém o pé no acelerador dos juros

19/09/2025 às 17:57.
Atualizado em 19/09/2025 às 17:57

Nos Estados Unidos, o Fed finalmente cedeu à pressão do mercado e reduziu os juros em 25 pontos-base, para o intervalo entre 4% e 4,25% ao ano. O mercado comemorou, os famosos “dot plots” mostraram que nove dos dezenove membros do Comitê já enxergam os juros terminando 2025 em 3,50% a 3,75%. Traduzindo, há espaço para mais dois cortes neste ano, em outubro e dezembro. Isso animou Wall Street, mas o entusiasmo durou pouco. Powell fez questão de ressaltar que a inflação ainda preocupa e cada passo dependerá dos dados. Em outras palavras, o Fed sinaliza alívio, mas mantém as travas para não perder o controle do jogo.

BC brasileiro na contramão: Selic permanece em 15% sem previsão de corte

Enquanto lá fora a turma já imagina cortes adicionais, por aqui o Banco Central parece ter assinado um contrato vitalício com os 15% da Selic. O Copom argumentou que a inflação segue resistente, as expectativas continuam desancoradas e o mercado de trabalho insiste em bater recordes de dinamismo. Resultado, nada de alívio antes da hora.

O comunicado ainda foi além, dizendo que, se preciso, o BC não hesitará em retomar o ciclo de alta. Quem sonhava com corte em dezembro recebeu um banho de água fria direto do Planalto Central. Para analistas como Sérgio Goldenstein, o detalhe mais marcante foi a manutenção da projeção de IPCA em 3,4% para 2027, acima do que o mercado já vinha projetando. É como se o BC dissesse, “vocês podem até sonhar com Selic menor, mas eu faço minhas próprias contas”.

Quem ganha com essa diferença de juros entre EUA e Brasil?

A decisão do Fed e do Copom se alinham. Quando os juros americanos recuam, os títulos do Tesouro deles rendem menos e parte do capital global começa a procurar alternativas mais rentáveis. Nesse caso, o Brasil segue oferecendo taxas altas e, portanto, bastante atraentes.

Na prática, isso significa mais dólares entrando no país, fortalecendo o real e ajudando a aliviar pressões inflacionárias. O efeito já pode ser visto, o Ibovespa renovou máximas históricas, e chegou a atingir 146.330,90 pontos no intraday. O dólar comercial, por sua vez, recuou para cerca de R$ R$ 5,291, um patamar que não era observado desde Junho de 2024. 

Lula e Trump no campo político das narrativas

Em meio ao embate monetário, Lula aproveitou para reforçar sua narrativa contra Donald Trump, que segue firme com o tarifaço sobre produtos brasileiros. Em entrevista à BBC, o presidente disse que não tem relação com Trump, apenas com o Brasil, e defendeu que as tarifas vão doer mais na economia americana que na brasileira. Sustenta a tese de que, sem café e sem carne do Brasil, a inflação deles vai sentir o tranco.

Curiosamente, as pesquisas mostram que a retórica tem funcionado. Levantamento Genial/Quaest revelou que 73% dos brasileiros consideram que Trump errou na taxação, enquanto quase metade aprova a postura de Lula. Já outro estudo, da Latam Pulse Atlas & Bloomberg, trouxe o presidente com mais de 50% de aprovação, seu melhor número desde janeiro de 2024. A guerra dos juros encontrou, assim, seu paralelo na guerra das narrativas.

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