Gastronomia e redes sociais: o poder do Instagram na escolha do consumidor

Publicado em 19/09/2025 às 06:00.

Rubens de Avelar Freitas*


Há muito tempo a comida deixou de ser apenas uma necessidade básica. Comer, hoje, é também um ato de experiência, de identidade e, sobretudo, de compartilhamento virtual. Se antes o prato bonito era exibido apenas na mesa do restaurante, agora ele ganha projeção global em poucos segundos, graças ao poder das redes sociais. Entre elas, o Instagram ocupa lugar de destaque: é ali que muitos consumidores descobrem novos sabores, selecionam restaurantes e até decidem o que pedir antes mesmo de abrir o cardápio.

A força desse fenômeno está na imagem. O olhar é o primeiro filtro do desejo e, diante de uma tela, a comida se torna quase palpável.

Um prato bem elaborado, algumas vezes emoldurados pela luz natural ou não, com cores vibrantes e ângulos estratégicos, desperta sensações que estimulam o apetite e aguçam a vontade de conhecer o tal lugar da foto. Não por acaso, bares, cafés e restaurantes investem cada vez mais em ambientes “instagramáveis”, onde o cenário é pensado tanto para agradar o paladar quanto para gerar curtidas e compartilhamentos.

Mas não é apenas estética. O Instagram funciona como uma espécie de guia coletivo, onde as experiências de outros consumidores ganham peso de recomendação. Um amigo que posta a foto de uma sobremesa ou um influenciador que descreve a textura de um prato acabam atuando como multiplicadores de desejo. E isso vale tanto para os grandes nomes da gastronomia quanto para pequenos empreendedores, que encontram na rede uma vitrine acessível e de alcance surpreendente.

Outro ponto interessante é como o comportamento do consumidor foi moldado por essa dinâmica. Antes de sair de casa, é comum que se faça uma busca rápida pelo perfil do restaurante: como são os pratos? Qual o estilo do ambiente? Há comentários positivos?

Muitas vezes, a escolha de onde jantar é definida ali, entre hashtags e fotos cuidadosamente editadas. A gastronomia, nesse sentido, ganhou um espaço híbrido, que transita entre o físico e o digital, entre o sabor real e a promessa visual.

Entretanto, há também desafios. A busca incessante pela estética perfeita pode criar expectativas irreais, distantes da experiência concreta. Um prato que parece impecável na tela pode não corresponder ao sabor esperado. Além disso, a pressão para manter uma presença digital ativa exige das casas de alimentação investimento constante em marketing e produção de conteúdo, o que nem sempre é viável para todos.

Ainda assim, é inegável que o Instagram transformou a forma como consumimos gastronomia. Mais do que um simples canal de divulgação, tornou-se parte do ritual gastronômico contemporâneo: escolhe-se o prato, aprecia-se o sabor, mas também registra-se a experiência para compartilhar com o mundo. Comer, afinal, nunca foi tão público.

* Gastrólogo e professor especialista em gastronomia e estudos da culinária

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