Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

A lição da ostra e da pérola para a cura do Brasil

Publicado em 14/04/2023 às 06:00.

Desde décadas inúmeros livros, artigos e discursos bradam ser o Brasil o país do futuro, com vocações grandiosas para se tornar uma grande potência global e com destacada qualidade de vida do seu povo.

Tudo bem, mas e então? Os anos passam e o tal futuro promissor nunca chega. Parece que se afasta cada vez mais. A desigualdade só aumenta, a fome assombra milhares de brasileiros, os ricos cada vez mais ricos, o combate a corrupção que parecia avançar sofre um revés brutal, aumento da intolerância, da descompaixão e sobreposição de interesse pessoais aos coletivos.

Temos a sensação que vivemos algo como um salve-se quem puder. E sentimos o grande projeto de nação indo para as calendas gregas.

E ao estilo Cazuza, um sentimento de muitos nos envolve: “Pois aquele garoto que ia mudar o mundo; Mudar o mundo; Agora assiste a tudo em cima do muro”.

Não obstante tudo, para a concretização do almejado futuro promissor, inspiremos no processo de surgimento e formação das pérolas.

Em mais neste momento, a natureza nos dando lições e ensinamentos. O processo nada mais é que um mecanismo de defesa das ostras. Se inicia quando corpos estranhos como grãos de areia, vermes, plânctons, pedaços de rocha ou coral penetram no interior das ostras. Este fato gera desconforto e incômodo, criando um sistema de proteção e defesa.

Assim sendo, o manto da ostra envolve esse “corpo estranho” produzindo várias camadas de uma substancia produzida por ela chamada nácar. O processo natural até a concretização da pérola dura em média de três anos. Ou seja, não é um processo da noite para o dia. A pérola é fruto de algo indesejado, inadequado, que causa incômodo e desconforto.

Uma grande nação também não se constrói da noite para o dia. Vários “corpos estranhos” podem infiltrar no seu interior, causando diversos efeitos negativos, danosos, nefastos e repugnantes.

E cada país sofre de respectivos reveses que inibem, comprometem ou até anulam sua plenitude como nação, assim como aqueles que penetram no interior das ostras.

Todos os países hoje considerados desenvolvidos, com destacados índices de qualidade de vida e de cidadania, em algum momento em sua história, após alguma catástrofe, guerra, uma grave convulsão política, soube se reinventar e ressurgir como nação, criando mecanismos de proteção como a ostra atua com a substancia nácar.

O Brasil precisa se tornar uma pérola. Para tanto, os elementos intrusos precisam ser identificados e tratados de forma obstinada e efetiva. Apenas alguns: corrupção, impunidade, intolerância, fake news, paternalismo, corporativismo, populismo irresponsável, educação medíocre, incompetência gerencial e muitos outros.

Para cada um dos intrusos, indispensáveis são mecanismos de proteção para envolver e inibir consequências danosas e doloridas para o país.

Assim como uma ostra que não foi ferida não produz pérolas, um país que não enfrenta e vence suas doenças, seus parasitas e suas feridas continua medíocre e o tal futuro promissor fica apenas nas palavras e teorias, descolado e desconectado com a realidade do dia a dia das pessoas.

O processo não é automático e nem rápido. Mas tem que ser iniciado e não ser interrompido. E por todos nós! Por esta e pelas próximas gerações!

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