Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

América Latina e o pêndulo de Schopenhauer

11/06/2021 às 15:22.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:09

Imprescindível que o pêndulo político doutrinário do continente não nos remeta ao pessimismo do pêndulo do filósofo Schopenhauer. Um mundo globalizado e pandêmico exige interlocuções e articulações efetivas entre nações com vistas a reduzir a dolorosa travessia do deserto em prol da recuperação econômica e social da região.

O pêndulo político e doutrinário sempre deve ser considerado não como impedidor de interações e acordos entre países, mas sim como análise conjuntural e prospectiva para distinções no campo da negociação, indicando olhares diferentes de política internacional, do papel do estado, de gestão pública e de políticas de desenvolvimento. Nestes termos, respeitando as diferenças, o desafio é a busca de sinergias e estrategicamente mitigar as diferenças em prol de cooperações e acordos comerciais positivos para ambos os lados.

Apenas a título de exemplificação da composição político ideológica da região, o pêndulo virou mais à esquerda nos últimos anos. Em 2018 foram eleitos no México o presidente Andres Manuel López Obrador e Claudia Sheinbaum à prefeitura da capital. Um ano depois, foi eleito na Argentina para o mandato presidencial Alberto Fernández, o que recentemente disse a épica frase “que os brasileiros vieram da selva e os argentinos de barcos da Europa”. Em outubro, o Movimento ao Socialismo (MAS) voltou ao poder na Bolívia com Luis Arce. No Chile uma nova Constituição será elaborada por parlamentares de perfis mais esquerdista e recentemente no Peru a eleição presidencial cravou a vitória do líder camponês Pedro Castillo. Convém citar o caso do Equador, em que a vitória em abril de Guillermo Lasso na eleição presidencial foi um raro êxito da direita no atual ciclo eleitoral.

O ponto fulcral das diferenças ideológicas é evitar que aja distanciamento entre países e até a anulação de relações efetivas, chegando nas relações internacionais, o que nas relações pessoais caracteriza o pêndulo de Schopenhauer, desenvolvido pelo chamado filósofo do pessimismo, em que os pensamentos negativos sobre a vida, regida pela vontade, foram sua maior marca. No seu clássico “Aforismos para a Sabedoria de Vida”, dispõe que ''a vida é um pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento. A felicidade é apenas uma cessação de ambos”.

Assim, as pessoas perseguem o equilíbrio mas não conseguem ali permanecer. Buscam incessantemente deixar de sofrer na busca da paz e do equilíbrio. Mas neste equilíbrio, nada acontece e então buscam as pessoas novas experiências. Novas experiências, levam a traumas e decepções, ou seja, sofrimento. Então o pêndulo volta para a área do equilíbrio, repetindo todo o processo eternamente. E, pela alegoria do pêndulo, as vontades humanas nunca estão satisfeitas devido a idealização da felicidade.

Problemas atuais foram desnudados e agravados com a pandemia. Relações humanas, profissionais, graves crises econômicas e sociais que apresentam feridas que precisam ser devidamente tratadas, sob o risco eminente de comprometer gerações e o futuro dos países. Um sério pessimismo assola grande parte das famílias. E como disse Rui Barbosa, “a pátria é a família amplificada”. Então cuidemos das famílias e teremos um país melhor. E em um mundo globalizado e conectado, o cuidar tem como eficiente ferramenta as relações entre nações, tendo como premissa básica a compreensão e o respeito às respectivas histórias e à soberania ao escolher seus governantes.

A economia da América Latina encolheu 7% no ano passado, contração mais acentuada de todas as regiões emergentes, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso significa em termos práticos desemprego e agravamento das questões sociais, sinalizando momentos tensos e complexos pela frente.

Na mesa, a capacidade dos governantes na promoção do diálogo, sempre com as premissas do equilíbrio e espírito convergente. Esta a expectativa dos mais de 925 milhões de pessoas em todo o continente latino-americano.

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