Ao mestre Bonifácio Andrada, minha gratidão
Minha primeira atuação no executivo estadual se deu em 1992 na então Secretaria de Administração do Governo de Minas Gerais. Ainda estudante de Direito na UFMG, tive uma rica e indelével oportunidade para iniciar o processo de conhecimento e compreensão da gestão pública de um estado de grandes dimensões, complexidades e heterogeneidades como MG.
Para minha satisfação, fui designado a atuar em uma comissão recursal de processos administrativos, diretamente subordinada ao gabinete do secretario, o então deputado Bonifácio de Andrada, ao qual conhecia apenas por entrevistas na imprensa e pela leitura de artigos publicados.
Seu estilo sempre afável e professoral permitiu-me e possibilitou contatos diretos para esclarecer dúvidas e curiosidades acerca não só dos processos, mas do funcionamento do governo em geral, da política nacional e internacional, das relações executivo-legislativo, do nosso sistema democrático, etc. Na condição de um jovem estudante de direito, não poderia perder a oportunidade de absorver conhecimentos e experiências de uma pessoa brilhante, culta, com uma memória prodigiosa e que foi testemunha ocular de representativos momentos históricos de Minas e do país.
Em uma das inúmeras conversas em seu gabinete, já no início de 1993, vi uma caixa de livros de sua autoria, cujo título “Parlamentarismo e a realidade nacional” chamou-me atenção. E claro que fui logo perguntando acerca da temática, se seria algo bom para o nosso país, pois em abril teria no Brasil o plebiscito Monarquia- República, Parlamentarismo-Presidencialismo.
Ao meu questionamento, o secretário Bonifácio respondeu de forma rápida e direta: “se quer mesmo aprofundar no assunto, pegue um livro na caixa e leve pra casa. Conclua a leitura em dois dias. Não precisa vir na secretaria neste período. Quando apto, voltamos a conversar”.
E assim o fiz com reconhecido deleite. E na primeira oportunidade na concorrida agenda do secretario sentamos e conversamos sobre alguns pontos e tirei algumas dúvidas. Doravante estava mais que convencido da pertinência do parlamentarismo para o Brasil. O livro, de riquíssima doutrina e pesquisa comparada entre vários países, foi pra mim uma excelente fonte de estudos e reflexões.
A partir de então, Bonifácio da Andrada conciliou as atividades da secretaria com a coordenação da campanha a favor do parlamentarismo em Minas. E para minha absoluta satisfação e orgulho me convocou para acompanhá-lo nas palestras, reuniões, viagens e demais eventos por toda Minas em defesa deste sistema de governo, como um sinal de que a causa parlamentarista era também um anseio e apoiada pelos jovens. Foram inúmeras viagens e oportunidades em que eu aproveitava ao máximo o tempo para adquirir conhecimentos e aprendizados de um grande ser humano, com destacada capacidade intelectual em diversas áreas, em especial o direito constitucional e a ciência política, tanto no campo doutrinário como na prática, em detrimento dos relevantes cargos públicos e mandatos eletivos ocupados.
Nossa vida, pessoal, profissional e acadêmica é inspirada por pessoas que nos mostram e transmitem legados, pensamentos e realizações. Conhecimentos devem ser compartilhados. Assim pessoas assumem protagonismo em suas próprias vidas e servem de paradigmas gerações sequentes. E para os que atuam na gestão pública, estarão mais aptos no labor em prol do interesse público e do bem comum.
Estimado Mestre Bonifacio Andrada, descanse em paz e minha eterna gratidão.