Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Brasil como caminha: do limão não sai limonada. Só marmelada!

Publicado em 09/06/2023 às 06:00.

Já dizia o saudoso Kafunga, ex-goleiro do Galo: “No Brasil, o errado é que está certo”. Adiciono que, na melhor das hipóteses, o errado é aceito de forma passiva, omissa e até complacente. Mas por suposto que depende de quem o pratica.

Para adentrarmos nos “errados que viram certos” da atualidade, com graves impactos para nossas vidas e das próximas gerações, vide parte de colunas em veículos nacionais de conceituados analistas políticos que conhecem e acompanham a fundo os bastidores de Brasília. Concordem ou não, mas são gravíssimos!

Pela Folha de SP, Dora Kramer, em coluna intitulada Bancada da Toga. “Confere ares de veracidade a versão corrente segundo a qual o Executivo cogita firmar aliança com o Judiciário, a fim de superar as dificuldades com o Poder Legislativo. A se confirmar essa intenção, a tradução dela seria a de que o governo planeja fazer do STF um atalho, colocando os ministros na condição de pajens do Planalto na tarefa de compensar dificuldades nas tratativas com deputados e senadores”.

Pelo Estadão, Eliane Cantanhêde: “o presidente Lula continua fazendo e falando bobagens, sem enxergar a realidade: o governo está sem rumo... No início, Lula acertava na política externa e errava na gestão interna. Agora, erra nas duas. Como fazer elogios à China e à Rússia e atacar EUA e Europa? Ficar em cima do muro na invasão da Ucrânia? Considerar um “momento histórico” o encontro com Nicolás Maduro, que destrói a Venezuela?

E pelo Oglobo, Merval Pereira analisa a presença dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, no churrasco que o presidente Lula organizou na sexta-feira no Palácio Alvorada, juntamente com ministros do Governo e lideranças partidárias: “não causou espanto pela frequência com que ministros do Supremo se encontram em Brasília com políticos, advogados e empresários em reuniões informais, mesmo quando esses respondem a algum processo que está ou poderá estar em votação no STF”.

Do poder de Alexandre de Moraes diz Merval: “movimentou-se para que as duas vagas abertas no Tribunal (TSE) fossem preenchidas por indicações suas, o que aconteceu em tempo recorde. Num dia, Moraes teve um almoço com o presidente Lula, no dia seguinte os dois advogados estavam nomeados”.

E mais adiante: “Antes mesmo de ter conseguido nomear dois advogados ligados a ele, Alexandre de Moraes já conseguira a condenação, por unanimidade, do ex-promotor da Lava-Jato Deltan Dallagnol, que perdeu seu mandato de deputado federal no TSE. Além do voto de relator, os demais ministros levaram cerca de 1 minuto para condená-lo”.

“Errados que viram certos” que ignoram nossas leis, fragilizam nossas instituições e adoecem nossa democracia. Faz concordarmos que o dito Brasil o país do futuro está indo para as calendas gregas. Importante explicitar que os absurdos dispostos acima são marcas históricas e culturais do país, independentemente se o governo de plantão é de esquerda ou direita. Alguns o potencializam e focam em passar imagem de normalidade país afora.

E as consequências são catastróficas. Conforme o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, “a desigualdade brasileira aparece em todos os indicadores econômicos e sociais.”

Posto isso, não há como fazer desse amargo limão uma saborosa limonada. E sim uma grande marmelada. Este simples doce é também uma expressão popular que significa trapaça, algo ilegítimo, enganoso. A origem vem de uma prática desonesta de misturar chuchu ao doce de marmelo para fazê-lo render mais, enganando os clientes pela não pureza do produto final.

Algo fajuto. Tipo aqueles que insistem em transmitir que as instituições no Brasil são sólidas, que a democracia caminha bem e que por aqui se efetiva ou está próximo do "Governo do Povo, Pelo Povo, para o Povo”, parafraseando o famoso Discurso de Gettysburg, do fantástico ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln.

Pobre Brasil. Do limão à marmelada!

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