Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Brasil: Educação na UTI e um país intubado

18/06/2021 às 15:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:12

Não bastasse a perda de pais e avós, graves prejuízos quanto à saúde mental, desenvolvimento cognitivo, físico e emocional, esta pandemia tem um potencial devastador no processo educacional e de aprendizado das nossas crianças e jovens.

Caso ações rápidas e efetivas não sejam implementadas, as perdas serão incomensuráveis, comprometendo gerações, o protagonismo das pessoas e o futuro do nosso país.

Entidades nacionais e organismos internacionais têm apresentado importantes estudos sobre a temática. Em análise, o relatório do Banco Mundial de março de 2021, “Agir agora para proteger o capital humano de nossas crianças: Os custos e a Resposta ao Impacto da pandemia da COVID no Setor de Educação na América Latina e no Caribe”.

Dispõe o mesmo que a COVID-19 produziu em 2020 “a desorganização mais significativa da história da educação, com o fechamento das escolas em todos os níveis, afetando mais de 170 milhões de estudantes em toda a América Latina e Caribe”. E uma das consequências imediatas dessa interrupção é que cerca de dois em cada três alunos não são capazes de ler ou entender textos adequados para a sua idade.

E por suposto os mais prejudicados são os estudantes de baixa renda, com prejuízos a curto, médio e longo prazo em suas vidas. Segundo Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, “esta é a pior crise na área de educação já vista na região, e estamos preocupados que possa haver consequências graves e duradouras para toda uma geração, especialmente para os setores mais vulneráveis... Os governos devem tomar medidas urgentes para recuperar o terreno perdido e aproveitar esta oportunidade para melhorar os sistemas de educação, aproveitando as novas tecnologias”.

O relatório não só instiga, mas trata de maneira imperiosa ações efetivas e imediatas dos governos para mitigar estas nefastas e preocupantes consequências. Os temas educação e capacitação profissional devem estar na ordem do dia em articulações conjuntas, planejamentos e ações dos governos, das empresas e da sociedade civil.

As diretrizes propostas pelo relatório aos governos tratam “da continuação e aprimoramento do alcance e da aceitação do ensino a distância para os grupos mais desfavorecidos, assim como a qualidade geral da aprendizagem remota, será fundamental para mitigar as perdas de aprendizagem e reduzir as desigualdades”. O ensino remoto de sobremaneira importância tanto para alunos como para capacitação dos professores.

Quanto a recursos, “os governos da região precisam garantir financiamento público prioritário para a educação”. Outras formas também podem ser mobilizadas por meio de parceiros com empresas, entidades da socidade civil e organismos internacionais.

“A pandemia da COVID-19 representou a maior crise de todos os tempos para os sistemas educacionais na América Latina e no Caribe, mas também desencadeou uma oportunidade incomparável para mudança. Algumas das medidas adotadas durante a crise podem desempenhar uma função importante após a crise. Por exemplo, a alavancagem do potencial inexplorado da tecnologia da informação e comunicação é claramente uma oportunidade única de avançar para uma nova etapa do desenvolvimento educacional.

A experiência em Minas Gerais é um positivo paradigma, em que as aulas podem ser vistas na Rede Minas, sendo o programa “Se Liga na Educação” transmitido de segunda-feira a sexta-feira, pela manhã. O grande desafio é ampliar o sinal da rede educativa do governo mineiro para os 853 municípios do estado, o que sem dúvida será uma excelente e oportuna política pública, atentando às exigências conjunturais e ao que dispõe o documento do Banco Mundial, ao confirmar ser fundamental “priorizar e apoiar a aprendizagem dos estudantes e desenvolver uma nova visão na qual a aprendizagem aconteça para todos, em todos os lugares”.

Destarte, também de sobremaneira importância, análise do relatório do Unicef em parceria com o Cenpec Educação de abril de 2021, intitulado “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um alerta sobre os impactos da pandemia da Covid-19 na Educação”. Explicita o documento que em novembro de 2020, mais de 5 milhões de crianças e jovens não tiveram acesso à educação no Brasil. “Os números são alarmantes e trazem um alerta urgente. O país corre o risco de regredir duas décadas no acesso de meninas e meninos à educação, voltando aos números dos anos 2000”, frisou Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

Por fim, projetos, ações e parcerias devem de forma absoluta sobrepor quaisquer interesses políticos e eleitorais. Na ordem do dia estão o protagonismo das próximas gerações e o futuro da nação.

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