Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Covid em análise pelo arquiteto Gustavo Penna

17/07/2020 às 21:45.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:03

Referencia da arquitetura e urbanismo, com trabalhos publicados nas principais revistas e sites especializados no mundo e ganhador de vários prêmios nacionais e internacionais, o mineiro Gustavo Penna nos presenteia com algumas ricas reflexões acerca deste singular momento e do pós Covid.

Em termos gerais, o que pensar deste momento de pandemia e perspectiva para o pós Covid? 
Mania de arquiteto, tendo a pensar mais no futuro que no momento presente. A minha profissão me provoca viver um pouco adiantado e ter um deslocamento de atenção, afinal os projetos concebidos hoje só serão usados no futuro. Do momento presente já existe muita gente cuidando, e alguns, infelizmente, preocupados em aumentar o sofrimento e o pânico. Gostaria, e tenho me preparado para participar, com muito entusiasmo, do processo de construção do que vem depois. 

O teletrabalho se consolidando, quais os impactos mais evidentes nas políticas urbanas e planejamento? 
Não acredito que os lugares de trabalho irão todos se transformar em grandes espaços vazios, abandonados. Vejo as pessoas com vontade e necessidade do encontro. O processo de trabalho coletivo presencial não consegue ser substituído por trabalho a distância de uma forma natural. Fazemos isso como uma alternativa, mas na grande maioria dos casos, preferimos estar junto. Na minha realidade, o distanciamento fica mais crítico, pois desenvolvemos o trabalho na forma de Atelier. Pessoas precisam estar juntas, viver o modo de pensar do outro, criar coletivamente, contribuir com o crescimento da ideia e ter um envolvimento emocional no processo. É certo que haverá uma modificação no comportamento sim, mas no sentido de aumentar a convivência, no trabalho e com a cidade e seus espaços abertos: lazer, cultura e cuidado com o espírito. 

O que pensa do papel das artes, da cultura em geral para o chamado “novo normal” que virá no pós Covid? 
Neste momento fica evidente a importância das artes para gerar qualidade de vida. Estamos percebendo que se não tivermos momentos de contemplação, de sair dessa rotina que nos aprisiona, a vida fica triste, sem imaginação e sem colorido. A arte faz esse resgate e as pessoas estão encontrando no tempo que sobra, a possibilidade de ter um maior contato com a criatividade humana, de conhecer a vida de um artista, o porquê do criar e o que move uma pessoa no sentido da imaginação, da metáfora e da transcendência. Na história, os momentos que vivemos uma compressão social muito grande são seguidos por uma atmosfera de criação e inventividade. A necessidade de liberdade é terreno fértil para a arte acontecer.

Quais os caminhos, na sua opinião, para a reconstrução de Minas no pós Covid? 
Acredito que Minas Gerais irá ganhar muito nesse novo tempo. Assim que for reestabelecida a convivência social, vejo uma vontade latente das pessoas em aumentar o contato com a beleza natural e com os lugares que possibilitam a expansão do olhar. Aqui em Minas temos tantos lugares lindos, que não conhecemos ainda pela velocidade antes imposta pela vida excessivamente competitiva. Vejo gente manifestando a vontade de conhecer a Serra da Canastra, do Cipó, o Circuito das cidades históricas e seus personagens. Uma vontade desse apropriar da própria terra, de ter contato com o que é o nosso legado, do ponto de vista da arte e da natureza, este real transcendente e mais convidativo. Penso também no ganho do redesenho das cidades, que já viviam um processo de mudanças e questionamentos e que agora foram acelerados. A introdução da tecnologia e da inovação no convívio das pessoas, os novos modais de transporte mais leves como a bicicleta, por exemplo, a necessidade de ressignificar as calçadas, as praças, as ruas, o espaço público, de lazer e recreação. Queremos viver uma dimensão ampliada e um olhar mais humano, uma cidade generosa e inventiva. Torcendo para que seja rápido para não ser tarde demais.

  

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