Deveras reflexivo com a conclusão da leitura do excelente livro presenteado a mim pelo estimado primo Antônio Caran Filho, intitulado “Fernando Reis: Sonho e Glória, Amor e Dor”, do valoroso escritor e Secretário de Estado de Planejamento no Governo Tancredo Neves Ronaldo Costa Couto.
Com constrangimento, embaraço e desconforto digo que não conhecia e nem tinha informações acerca do destacado papel de Fernando Torquato Reis em prol da economia mineira e o quão a empresa Vale representa hoje a nível mundial.
Com destacada formação acadêmica como economista, implementou e liderou equipes em relevantes estudos acerca do desenvolvimento regional de Minas, como exemplo o Diagnóstico da Economia Mineira de 1968. Contribuiu sobremaneira para a criação de órgãos e entidades governamentais no governo Israel Pinheiro voltados para o desenvolvimento econômico. Segundo Tancredo de Neves, foi Reis "um dos principais responsáveis pela revolução econômica de Minas Gerais”.
Para Delfim Netto, "Fernando Reis foi um dos principais economistas brasileiros”. Ganhou destaque nacional como Secretário da Fazenda no governo Rondon Pacheco, quando assumiu o Estado em situação gravíssima nas finanças. Segundo Reis, "na gestão desse inigualável Rondon Pacheco, coube-me a tarefa de tirar Minas do vermelho”.
Missão essa efetivada com extrema dedicação, firmeza, denodo, conhecimento e liderança. Sobre sua exitosa atuação, fez uma interessante reflexão: "Num estado falido, o êxito de um secretário de Fazenda é função direta do número de desafetos, descontentes, inimigos e falsos amigos que se conquista." E ainda: "No caso das finanças, ou o homem distribui benesses e quebra o caixa, ou distribui inimizades e saneia o tesouro”.
Assumiu posteriormente uma diretoria no Banco Central. O ponto alto em sua carreira foi em 1974 quando assumiu a presidência da então CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), hoje Vale S/A. Ali externalizou toda a sua inteligência, arrojo e determinação como visionário e obstinado. Ao assumir a presidência, disse Reis sobre a empresa: "A Vale é uma empresa grande que pensa pequeno”.
Resultado: apesar do desconhecimento de alguns e informações equivocadas de muitos, foi o principal responsável por um fato que foi decisivo para a Vale ser esta potência que é hoje, com a compra dos 49% que os americanos detinham de Carajás por intermédio da US Stell.
Fiz questão de fazer breve pesquisa na internet, tanto em ferramentas de busca como de IA, e para minha indignação, há omissão de forma absoluta do papel principal exercido por Reis na compra de Carajás, com os logros exclusivos para Eliezer Batista.
Indispensável enfatizar a fala de Eliezer Batista da Silva, ex-presidente da Vale, em ata da reunião da diretoria de 27 de junho de 1983, citada no livro de autoria de Ronaldo Costa Couto: "Jamais serão esquecidas a persistência e habilidade de Fernando Reis para que se concretizasse o histórico evento da passagem do Projeto Carajás para o controle único de nossa empresa”. Conforme Alysson Paulinelli, ministro da Agricultura do governo Geisel, "O Brasil deve Carajás ao Fernando Reis”.
O livro retrata de forma magistral tanto a infância de Fernando Reis em BH quanto os momentos tristes de um câncer que o levou à precoce morte aos 50 anos de idade. A forma como Ronaldo Costa Couto coloca as palavras e os fatos, nos transporta a sentir estar presente nos momentos de deleite e leveza nos jogos de futebol e festas da turma do bairro Floresta e de angústia e tristeza junto ao seu leito nos seus momentos finais neste mundo terreno.
Após a saída da presidência da Vale e com a doença em processo evolutivo, teve problemas financeiros para sustentar a família. Em 1982 Caran Filho, então diretor da Metrobel, relata no livro que o recebeu e foi oferecida proposta de apólices de vida em grupo dos empregados e de frota de veículos. Vejam isso!
Nesse diapasão, uma reflexão final de uma frase do singular Fernando Reis: "A vida pública é pródiga em dissabores, frustrações e injustiças, e avara em satisfações”.