Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Lições para a esquerda brasileira: sempre será a economia, estúpido!

Publicado em 24/01/2025 às 06:00.

“É a economia, estúpido” foi uma frase cunhada por James Carville, estrategista da campanha vitoriosa de Clinton em 1992, para definir a estratégia da virada e derrota do então presidente George W. Bush. Este detinha um ano antes 90% de aprovação após o início da guerra no Kuwait, mas a forte recessão da economia proporcionou a virada do democrata.

Emblemático o artigo do mesmo James Carville no The New York Times dia 02 de janeiro, acerca da derrota da democrata Kamala para Trump. Um recado claro para a esquerda brasileira em relação às eleições presidenciais de 2026 no Brasil. Intitulado “I Was Wrong About the 2024 Election. Here’s Why”, dispõe de forma direta da correlação entre economia -  preços dos produtos e poder de compra -  com o processo decisório do voto.

Para reflexões algumas partes do artigo: “Eu pensei que Kamala Harris venceria. Eu estava errado. Embora eu tenha certeza de que nós, democratas, possamos argumentar que a derrota não foi esmagadora ou encontrar algum consolo em nosso desempenho na Câmara, o mais importante para nós agora é reconhecer que estávamos errados e agir sobre o "porquê" predominante.

Perdemos por uma razão muito simples: era, é e sempre será a economia, estúpido. Temos que começar 2025 com essa verdade como nossa estrela guia política e não nos distrair com mais nada”. Mais adiante assevera Carville que “Trump venceu de forma decisiva ao conquistar uma faixa de eleitores de classe média e baixa renda focados na economia. Os democratas perderam completamente a narrativa econômica. O único caminho para a salvação eleitoral é recuperá-la. Percepção é tudo na política, e muitos americanos nos percebem como alheios à economia — não sentindo sua dor ou se importando demais com outras coisas.

Para recuperar a narrativa econômica, devemos nos concentrar em revitalizar uma máquina de mensagens transformada para o novo paradigma político em que nos encontramos vivendo. Trata-se de encontrar maneiras de falar com os americanos sobre a economia que sejam persuasivas. Repetitivas. Fáceis de memorizar. E inteiramente focadas nas questões que afetam a vida cotidiana dos americanos.

Isso começa com a maneira como formamos nossa oposição. Em primeiro lugar, temos que parar de fazer de Trump nosso foco principal, porque ele não pode ser eleito novamente. Além disso, é claro que muitos americanos não dão a mínima para as acusações contra ele — mesmo que sejam justificadas — ou para seus impulsos antidemocráticos ou para questões sociais se não puderem sustentar a si mesmos ou suas famílias.

Trump venceu o voto popular ao colocar a raiva econômica dos americanos em primeiro plano. Se nos concentrarmos em qualquer outra coisa, corremos o risco de cair ainda mais no abismo. Nossa máquina de mensagens deve se concentrar fortemente em se opor à agenda econômica impopular dos republicanos que continuará a existir depois dele. Oponha-se vocalmente ao partido, não à pessoa ou ao extremismo de seu movimento; focar sua dor econômica, sim, assim como contestar a agenda econômica republicana.

E conclui que “Finalmente, os democratas devem avançar de cabeça erguida com essa agenda econômica no novo paradigma de mídia em que vivemos agora. Sou um homem de 80 anos e posso ver claramente que estamos caminhando para um ambiente de mídia não tradicional e descentralizado. Podcasts são os novos jornais e revistas impressos. As plataformas sociais são uma consciência social. E os influenciadores são os guardiões digitais dessa consciência. Nossa mensagem econômica deve ser afiada, clara, nítida — e devemos levá-la diretamente ao povo. O caminho adiante não será fácil, mas não há dois caminhos a escolher. O caminho a seguir não poderia ser mais certo: viveremos ou morreremos para ganhar a percepção pública da economia. Assim foi, assim é, e assim sempre será”.

E com as contas públicas desequilibradas, as previsões da economia para o Brasil em 2025 e 2026 não são boas: inflação em alta, juros elevados e dólar nas alturas. O discurso que “o amor tem que vencer novamente”, de que “só nós garantimos a defesa da democracia” não serão suficientes para garantir a sucessiva vitória da esquerda. Uai, mas como assim? Mas por quê?

 É que “Sempre será a economia, estúpido!”

© Copyright 2025Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por