Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Os prejuízos do tal ‘Minas Trabalha em Silencio’

10/07/2020 às 20:10.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:00

O que já foi sinônimo de esperteza, astúcia, e até inteligência como mecanismo para a solução de problemas, ao invés de confrontos, hoje pode ser constatado como algo extremamente prejudicial para um sustentado desenvolvimento econômico e social do Estado, nas ultimas décadas.
A origem dessa expressão remonta a curiosidades históricas, conforme Celso Serqueira: “em 1714, as Minas Gerais faziam parte da Capitania de São Paulo e, após a descoberta de ouro, a região foi dividida em três comarcas. Dentre os marcos divisórios instalados, havia um cruzeiro – cruz de ferro – no alto do Monte Caxambu, na estância hidromineral de mesmo nome. Ele indicava a divisa entre as comarcas do Rio das Mortes, em São João Del Rei, e da Vila de Santo Antonio de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. 

Em decorrência da Guerra dos Emboabas, em 1720, criou-se a capitania independente das Minas Gerais, que tinha como referência aquele cruzeiro colocado no Monte Caxambu. Para o Norte seria Minas, para o Sul seria São Paulo. O problema para os mineiros era que isso proporcionaria aos paulistas a posse de uma grande extensão de terra nas montanhas e as bacias dos rios Grande, Verde e Sapucay – território e mananciais do interesse de Minas. 

O que fizeram os mineiros para reverter esta situação? Pegaram em armas para defender com sangue as terras disputadas? Conclamaram o povo para se insurgir contra o governo? Não, nada disso. Pacíficos e matreiros como são os mineiros, os membros da Câmara de São João Del Rei furtivamente mudaram a posição do marco, levando-o para o alto da Serra da Mantiqueira, cerca de 80 quilômetros adiante, já no lado do Vale do Paraíba, o que deu origem, mais tarde, à cidade paulista de Cruzeiro. Com esse artifício, Minas ganhou toda a região conhecida hoje como “Terras Altas da Mantiqueira”. 

Infelizmente, esta expressão de linguagem virou séculos e era considerada algo positivo, e alguns assim todavia o pensam, como se fosse meritória na brutal concorrência entre os estados da federação brasileira e até em âmbito internacional para atrair investimentos nas mais diversas áreas, sempre tendo como fim a pujança do Estado e dos mineiros. Foi até slogan utilizado por Magalhães Pinto, que governou o Estado de 1961 a 1966.

E, com isso, posicionamo-nos bem aquém de onde poderíamos estar, quando analisamos aspectos elementares de Minas como Estado síntese do Brasil. Com uma infraestrutura precária, vide rodovias e o metrô da capital, passando pelos investimentos federais e privados, tanto nacionais como internacionais, e citando o paradigma da completa desproporcionalidade de turistas que visitam o Estado, quando analisamos a riqueza do nosso patrimônio material e imaterial, nossas paisagens, montanhas, cachoeiras, nossa rica gastronomia, o talento do seu povo e sua capacidade de inovação.

Não, não é mais possível aceitar o tal “Minas trabalha em silencio”. Ainda mais neste período extremamente grave de pandemia, em que o pós-Covid indica duros momentos pela frente, mister é mais que a união, mas a interação, planejamento conjunto e atuação obstinada de setores públicos e privados em prol da recuperação econômica e social do Estado.

Tarefa irrenunciável e irrefutável principalmente para o governo do Estado, parlamentos, prefeituras, Fiemg, Sesc, Sebrae, sindicatos e inúmeras entidades da sociedade civil compromissadas com o futuro de Minas e dos mineiros. 
Esta nossa missão. Este será nosso legado!! 

  

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