Boa reflexão para os governos no pós Covid é o livro do professor da London School of Economics e economista Richard Layard, “Can we be happier? Evidence and Ethics”, que centra na ideia que o objetivo principal das políticas públicas, em destaque as políticas econômicas governamentais, não deveriam ser centradas em promover o aumento do PIB, mas da felicidade.
A partir da década de 80 do século passado, instituições internacionais, a exemplo da ONU, BID e Banco Mundial, já dispunham em seus documentos e informes um revisado e mais adequado conceito de desenvolvimento. Se antes era apenas no aspecto econômico, como números de importações, exportações e produção nacional, passou a ser estudado e compreendido relacionado à qualidade de vida, como exemplos acesso a educação, saúde, moradia, lazer, segurança, cultura, etc. Ou seja, desenvolvimento diretamente associado a dignidade da pessoa humana.
Em seu livro, Layard analisa algumas pesquisas e estudos, como o Relatório Mundial da Felicidade, produzido pela ONU, que dispõe 156 países pelo grau de felicidade nos últimos dez anos. Não obstante nossos inúmeros problemas estruturais e características culturais, o Brasil aparece na 32ª posição.
Dentre os fatores que impactam na felicidade das pessoas o primeiro é ter saúde mental, seguido de ter um trabalho de boa qualidade, saúde física e ter um parceiro. O aumento de renda está em quinto lugar. A questão da saúde mental, tema bem explorado no livro, desponta como um problema em que se dá pouca atenção, que proporciona muito sofrimento com consequências danosas para a felicidade das pessoas e o desenvolvimento nacional.
Importante assinalar que o livro foi lançado antes da pandemia do Covid. E uma agravante constatação dos efeitos desta pandemia nas relações humanas, tanto pessoais quanto profissionais, agravando ainda mais o estado de saúde mental de parte da população.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em escala global, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% nos últimos 10 anos. São 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população mundial. Na América Latina, o Brasil é o país mais ansioso e estressado. Cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem de depressão, e 9,3%, de ansiedade.
Um estudo da Funcional Health Tech, empresa líder em inteligência de dados e serviços de gestão no setor de saúde, revelou que de 2014 a 2018, o consumo de antidepressivos cresceu 23% no Brasil.
Especificamente neste período de pandemia, um estudo feito pelo Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) apontou que os casos de depressão deram um salto. Entre março e abril, dados coletados online indicam que o percentual de pessoas com depressão saltou para 8,0%, enquanto para os quadros de ansiedade o índice foi de 8,7% para 14,9%.
Estudo divulgado pela IQVIA, empresa que atua na área de tecnologia e informações na área da saúde, as vendas de antidepressivos e estabilizadores de humor no Brasil cresceram 21,1% no acumulado de março, abril e maio de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado. O de tranqüilizantes cresceu 14,4% com a mesma comparação temporal.
Sim, a situação é muito preocupante. A atuação dos governos deve ser diretamente proporcional à gravidade do momento!