Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Putin: lugar garantido no lixo da história global

Publicado em 12/03/2022 às 06:30.

O cientista político e historiador americano Rudolph J. Rummel cunhou o termo “democídio”, que significa "o "assassínio de qualquer pessoa ou grupo de pessoas por parte do seu governo, incluindo genocídio, politicídio, e assassínio em massa". São mortes causadas pela ação ou omissão de líderes com poderes ditatoriais. Como podemos ver a seguir, são números assustadores em um passado até recente da nossa história.

Segundo Rummel, “Se enfileirarmos os cadáveres das vítimas de democídio no século 20, eles dariam 6 voltas em torno da Terra”. Isso inclui desde fuzilamentos até grandes fomes causadas por uma guerra civil. Os maiores matadores, de acordo com o historiador americano são: 

1) Mao Tsé-tung: 77.000.000; 2) Stálin: 43.000.000; 3) Hitler: 20.000.000; 4) Kublai Khan, Mongólia (1215-1294): 19.000.000; 5) Imperatriz Cixi, China (1835-1908): 12.000.000; 6) Leopoldo 2º, Bélgica (1835-1909): 10.000.000; 7) Chiang Kai-shek, China e Taiwan (1887-1975): 10.000.000; 8) Gêngis Khan, Mongólia (1162-1227): 4.000.000; 9) Hideki Tojo, Japão (1884-1948): 4.000.000; 10) Pol Pot, Camboja (1925-1998): 2.000.000.

Interessante citar o que dispõe o professor e historiador brasileiro Nicolau Neto acerca de parte dos crimes de Stálin, ex-ditador da antiga União Soviética, tendo a Ucrânia como destinatária de apenas uma de suas atrocidades, demonstrando ainda que a relação entre este país e seu algoz atual foi beligerante em outros momentos da história. “Estima-se que na Ucrânia houve nada mais, nada menos do que 4,2 milhões de mortos. Entre 1932 e 1933, o regime comunista da União Soviética, comandado pelo ditador Joseph Stalin, promoveu uma reestruturação na agricultura, criando fazendas coletivas pouco eficientes e modificando os ciclos produtivos. As medidas tiveram consequências trágicas na Ucrânia, onde milhões de pessoas morreram de fome. Conhecido como Holodomor, o massacre foi considerado não intencional por Stalin, mas os ucranianos afirmam que resultou de um ato deliberado do ditador”.

Não obstante não estarem em listas dos mais perversos ditadores assassinos em escala global, não podemos desconsiderar em hipótese alguma aqueles governantes em períodos ditatoriais na América Latina, no continente europeu e africano, que, com ações tenebrosas e criminosas, atentaram contra a vida e contra direitos fundamentais dos povos. 

E ainda devem ser incluídos na lista de criminosos em larga escala os grandes governantes corruptos. Com carisma e grande capacidade de sedução das massas, nada mais são que verdadeiros ladrões da pátria, que drenaram e porventura ainda drenam milhões, bilhões de recursos públicos em prol de projetos pessoais, de poder e partidários. Não usam tanques, submarinos, caças ou artilharia pesada, mas da mesma forma matam pessoas de fome, na fila dos hospitais, interrompem sonhos e aniquilam gerações. A esses, nosso absoluto repúdio.

O mundo já se encontrava em um momento delicado e frágil, em que uma pandemia sorrateira e devastadora causou milhares de mortes, agravou de forma sem precedentes a economia global, aumentou de forma trágica a desigualdade e as incertezas quanto ao futuro, eis que Putin, um déspota e psicopata, atropela qualquer limite humano e normas internacionais ao invadir a Ucrânia. Mortes, destruições, pânico global, famílias destroçadas, gerações comprometidas e milhares de refugiados expulsos de sua pátria. 

Por fim, independente de quando e como o conflito acabar, o lixo da história no segmento governantes perversos e criminosos ganha mais um integrante. 

E o mundo fica mais cinza, mais triste e mais vulnerável.

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