Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Suicídio: 'Nem covarde, nem herói'

Publicado em 29/09/2023 às 06:00.

Às vésperas de findar o setembro amarelo, campanha de prevenção ao suicídio, trago breves considerações em uma mini entrevista com uma vizinha de infância, pessoa por quem tenho maior admiração, respeito e que perdeu seu marido por suicídio. Luciana Rocha é psicóloga, formada pela UFMG, com pós-graduação em Psicologia Clínica. Atua com psicoterapeuta do luto e desempenha um trabalho de conscientização e quebra de tabu em relação ao suicídio. Autora do livro: “Nem covarde, nem herói – Amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, lançado em agosto de 2022.

- A título de prevenção, como tratar do tema com as pessoas e entender sinais em alguém que pensa em praticá-lo?

A primeira coisa, a gente precisa entender que é necessário falar sobre suicídio. A gente precisa falar sobre adoecimento mental, a gente precisa trabalhar o tema, acabar com a psicofobia, que é o preconceito contra as pessoas que têm doenças mentais.

O cérebro é um órgão que adoece como outro órgão qualquer, então ele não deve ser tratado de forma diferente. Mas quais seriam possíveis sinais?

O primeiro seria o adoecimento psiquiátrico, em que a depressão é a doença mais comum em pessoas que morrem por suicídio, seguido de transtorno de bipolaridade e esquizofrenia. E observar pessoas que tiveram seu comportamento alterado nos últimos meses ou até anos. Pessoas que deixam de fazer o que costumava dar prazer, e não fazem mais. A pessoa muito pessimista que não vê uma alternativa viável para nada. A pessoa que fala que está querendo morrer ou que vai se matar, isso é um fator de risco gravíssimo e tem que ser levado a sério. A pessoa realmente está adoecida e está pensando em tirar a própria vida.

Outro sinal é alteração do hábito de sono. A pessoa dormir demais ou dormir de menos. Dormir de menos é até mais comum. E também sentimento de solidão, de impotência. Seriam estes alguns dos sinais.

- Do seu livro, “Nem covarde, nem herói”, qual a abordagem e mensagem que você busca?

Eu escrevi esse livro que conta minha história desde o meu namoro com o Marden, meu parceiro de vida por 15 anos e com quem eu tenho dois filhos, conto desde o namoro até cinco anos após a morte dele.

Eu vou intercalando a minha história com dados teóricos sobre o suicídio e sobre os sinais que ele deu e que eu, por exemplo, não consegui perceber, justamente porque eu não sabia nada sobre o tema, apesar de ser psicóloga há 16 anos, na época.

É para o público leigo e também para os profissionais de saúde. Porque o Marden, por exemplo, não tinha o perfil de uma pessoa que morre dessa forma.

E falar de como é também esse luto, porque a gente sabe que hoje a gente tem, em média, um milhão de pessoas que morrem no mundo por suicídio por ano. E que para cada morte a gente pode ter até 134 pessoas impactadas. Então, assim, são 134 milhões de enlutados por suicídio por ano. É muita gente.

A minha intenção é informar as pessoas e também fazer com que as pessoas se sintam acolhidas e tenham uma identificação também com a minha história.

- Qual a mensagem final que deixaria sobre o tema?

A mensagem final é que suicídio é multifatorial, as pessoas precisam parar de tentar achar uma causa, porque a pessoa morreu por suicídio, foi por isso, foi por aquilo, foi por aquilo outro. Não tem uma razão, não tem um culpado. A pessoa, em primeiro lugar, ela está adoecida, ela não consegue ter uma visão clara da realidade.

Então, quem precisar de ajuda, sentir que tem alguém próximo que está precisando de ajuda, converse, não julgue. A pessoa está com uma dor tremenda, está sentindo uma dor insuportável. E a única forma de acabar com essa dor é tirando a própria vida. Mas a pessoa, na verdade, não está querendo morrer. Tanto é que a pessoa tem sempre uma ambivalência quanto a isso.

Mais informações acesse o instagram: Luciana.psicologia

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