O Carnaval chegou. E mesmo não sendo fã da folia, respeito a pluralidade da nossa cidade e a diversidade dos que veem nessa festa um momento de lazer ou até um respiro diante dos desafios diários. Vivemos em uma democracia e é natural que existam diferentes formas de celebrar — ou não — esse período.
Porém, o que não podemos aceitar é a maquiagem dos problemas estruturais da nossa cidade durante o Carnaval. BH, como tantas outras capitais brasileiras, sofre com desafios antigos: transporte precário, hospitais sobrecarregados, falta de vagas em creches, segurança fragilizada e um custo de vida cada vez mais alto. Problemas que não tiram férias, mesmo quando os blocos estão nas ruas.
Séculos depois, essa prática ainda é vista por aqui. Durante o Carnaval, os holofotes se voltam para a festa e, de repente, os problemas urbanos parecem desaparecer — pelo menos até a Quarta-feira de Cinzas. Governos investem pesado na folia enquanto questões urgentes seguem sem solução.
Enquanto milhões se divertem nos blocos, mães continuam preocupadas com o preço do gás, famílias buscam atendimento médico e pais se perguntam se conseguirão matricular seus filhos em uma creche próxima de casa. Os abusos contra mulheres aumentam durante o Carnaval, mas, muitas vezes, a preocupação real surge só após as manchetes negativas.
E o transporte público? O sistema já é falho em dias normais e, durante a folia, vira um desafio ainda maior. Quem depende do ônibus para trabalhar ou voltar para casa sofre com atrasos, lotações e falta de informações claras.
Quando o último bloco passar, os confetes caírem e as luzes se apagarem, os mesmos problemas estarão ali, aguardando soluções. E a população — essa que dança, canta e resiste — voltará à dura realidade de sempre.
Porque, no final das contas, o verdadeiro ano só começa depois do Carnaval, mas os desafios nunca tiraram férias. É hora de parar de maquiar a cidade e encarar os problemas de frente.