Recebi a visita de uma ex-aluna, com quem cultivo amizade há mais de uma década. Ela e o namorado vieram me entregar o convite de casamento.
Recordamos a trajetória dela, desde a adolescência de origem pobre. Ela nem sequer sonhava em ser aprovada no Enem. Mas, com um tiquinho da minha insistência, eis que surgiu na família dela a primeira universitária.
Os 5 anos passaram como um vento. E ela se formou em Direito. O primeiro grande desafio, perante a prova da OAB, foi vencido com uma excelente nota.
Seguiu-se o exercício rentável da advocacia. E vieram os concursos para os cargos de elevado prestígio social. E claro: vieram várias aprovações.
Uma sombra, porém, a acompanha há anos: uma falsa amiga, sempre disposta a criar defeitos no sucesso alheio. Foi por isso que, durante a visita do casal de namorados, minha ex-aluna falou do desabafo ao “esfregar na cara” da falsa amiga que a estabilidade e o bom salário no serviço público propiciaram a compra de um apartamento. E narrou o diálogo assim:
- Comprei um apartamento na Pampulha. É lá que eu vou morar com meu marido.
- É mesmo, amiga!? A Pampulha está cheia de apartamentos distantes do comércio.
- Mas o meu fica ao lado de ótimos itens de comércio e serviços.
- Ah, sei. Você faz compras e depois sofre para desembarcar na chuva e subir vários andares com as sacolas.
- Nada disso. Tenho garagem coberta. E o prédio de 12 andares tem elevadores.
A falsa amiga continuou com suas “espetadas”, disposta a achar algum defeitozinho nas conquistas da concurseira triunfante.
Nesse ponto da conversa eu comentei:
- Eu compreendo o seu desabafo, que te motivou a ostentar seu sucesso para a falsa amiga. Mas, em vez disso...
Ela nem me esperou concluir a frase e disse: “Mas não se trata apenas de ostentação, Professor. Eu falei essas coisas por esnobismo mesmo. Porque é isso que aquela jararaca merece”.
- Eu compreendo. Mas, em vez de ostentar seu sucesso - ou, como você mesma disse - em vez de esnobar com uma falsa amiga, compartilhe a sua alegria.
- Compartilhar alegria!! Com ela!?
- Não. Claro que não. Compartilhe a sua alegria com quem a merece. Por exemplo: tenho certeza que seu noivo se alegra com seu sucesso.
E você, leitor ou leitora? Já escolheu o falso amigo, ou a falsa amiga, para esnobar os seus triunfos nos concursos? Se a sua motivação para estudar é essa, vá em frente. Mas eu te garanto: muito melhor que esnobar com um desafeto é compartilhar a alegria com quem merece o nosso amor e consideração.
A todos eu desejo bons estudos.
José Roberto Lima é advogado, professor da Faculdade Promove, autor de “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.