José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

A resposta está no vento

10/05/2021 às 21:08.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:53

 Esse artigo poderia ter outro título, em torno da seguinte pergunta: “Você quer a resposta ou quer aprender?” O texto é uma homenagem a um professor, formado em Letras e Direito, que se tornou um dos meus melhores colegas de magistério.

Certa vez eu presenciei o atendimento dele a um aluno, que lhe pedira a revisão gramatical de um texto. Tratava-se do trabalho de conclusão de curso, o temido TCC.

Ele iniciou as perguntas sobre o uso da crase. Depois perguntou sobre concordância verbal, flexão do verbo “haver”, uso das iniciais maiúsculas... enfim, foi um passeio por toda a gramática.

Para cada pergunta, ele buscava ansiosamente a resposta. Exemplos: 1) na frase “esse direito se estende a herança”, devo usar crase? 2) na frase “havia dúvidas entre os juízes”, devo usar o verbo haver no plural?

O professor respondia pacientemente:

- No primeiro caso o “a” é craseado porque...

Mas era interrompido e o jovem aluno passava para outra pergunta.

- Havia dúvidas ou haviam dúvidas?

- O verbo “haver”, no sentido de existir, fica no singular porque...

- E na frase “o defensor deixou de assistir a cliente”? Devo usar crase?

Depois de várias interrupções, o professor questionou educadamente:

- Um momento. Você quer a resposta ou você quer aprender?

Depois de uma pausa de silêncio, ele comentou:

- Eu te dei várias respostas. Mas, até agora, não fundamentei nenhuma delas. Desse modo, você voltará a ter as mesmas dúvidas.

Foi assim que o aluno se dispôs a ouvir e pôde realmente aprender. E bastou uma aula para ele mesmo identificar vários erros no texto, e corrigi-los.

Após esse atendimento o ilustre colega comentou comigo sobre a ansiedade com que alguns alunos buscam uma resposta, sem a paciência de aprender:

- Deveriam ouvir com mais atenção a música “Blowin’ In The Wind”, eternizada por Bob Dylan. Os versos propõem perguntas de profundidade filosófica. E eis o refrão: “A resposta, meu amigo, está soprando no vento”.

Noutras palavras, precisamos da paciência de aprender. O bom professor não é o que dá respostas; é o que propõe caminhos para o aluno chegar à resposta.

Então, você que está na luta dos estudos para concurso, não veja o seu professor como aquele que te dá o peixe. Ele prefere que você aprenda a pescar. Porque, na hora da prova, você não se lembrará de uma dúvida específica, para a qual teve uma resposta imediata. Você se lembrará do que realmente aprendeu.

A todos eu desejo bons estudos.

  

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