Esse artigo poderia ter outro título, em torno da seguinte pergunta: “Você quer a resposta ou quer aprender?” O texto é uma homenagem a um professor, formado em Letras e Direito, que se tornou um dos meus melhores colegas de magistério.
Certa vez eu presenciei o atendimento dele a um aluno, que lhe pedira a revisão gramatical de um texto. Tratava-se do trabalho de conclusão de curso, o temido TCC.
Ele iniciou as perguntas sobre o uso da crase. Depois perguntou sobre concordância verbal, flexão do verbo “haver”, uso das iniciais maiúsculas... enfim, foi um passeio por toda a gramática.
Para cada pergunta, ele buscava ansiosamente a resposta. Exemplos: 1) na frase “esse direito se estende a herança”, devo usar crase? 2) na frase “havia dúvidas entre os juízes”, devo usar o verbo haver no plural?
O professor respondia pacientemente:
- No primeiro caso o “a” é craseado porque...
Mas era interrompido e o jovem aluno passava para outra pergunta.
- Havia dúvidas ou haviam dúvidas?
- O verbo “haver”, no sentido de existir, fica no singular porque...
- E na frase “o defensor deixou de assistir a cliente”? Devo usar crase?
Depois de várias interrupções, o professor questionou educadamente:
- Um momento. Você quer a resposta ou você quer aprender?
Depois de uma pausa de silêncio, ele comentou:
- Eu te dei várias respostas. Mas, até agora, não fundamentei nenhuma delas. Desse modo, você voltará a ter as mesmas dúvidas.
Foi assim que o aluno se dispôs a ouvir e pôde realmente aprender. E bastou uma aula para ele mesmo identificar vários erros no texto, e corrigi-los.
Após esse atendimento o ilustre colega comentou comigo sobre a ansiedade com que alguns alunos buscam uma resposta, sem a paciência de aprender:
- Deveriam ouvir com mais atenção a música “Blowin’ In The Wind”, eternizada por Bob Dylan. Os versos propõem perguntas de profundidade filosófica. E eis o refrão: “A resposta, meu amigo, está soprando no vento”.
Noutras palavras, precisamos da paciência de aprender. O bom professor não é o que dá respostas; é o que propõe caminhos para o aluno chegar à resposta.
Então, você que está na luta dos estudos para concurso, não veja o seu professor como aquele que te dá o peixe. Ele prefere que você aprenda a pescar. Porque, na hora da prova, você não se lembrará de uma dúvida específica, para a qual teve uma resposta imediata. Você se lembrará do que realmente aprendeu.
A todos eu desejo bons estudos.