José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

Algema não é brinquedo

Publicado em 11/01/2023 às 10:16.

Presenciei na semana passada um daqueles fatos que já se transformou num “causo” para ilustrar minhas aulas e as próximas edições dos meus livros sobre técnicas de ensino, de aprendizagem e de memorização.

Quando estamos na atividade policial, voltamos diariamente ao lar com histórias para contar. Mas eu não imaginava que, depois de quase uma década da minha aposentadoria na Polícia Federal, iria me ocorrer um "causo" inesquecível (e, por isso mesmo, de alto valor pedagógico).

Ao me dirigir a um chaveiro, eu me deparei com uma cena que nem Salvador Dalí poderia imaginar: uma criança algemada. E dirigi a palavra ao funcionário da loja: “Eu não acredito! É isso mesmo que eu estou vendo”?


- Sim, é isso mesmo. Ele estava brincando com a algema e estamos tentando tirá-la.

O garoto, de uns dez anos, estava tranquilo e tentou justificar a travessura: “Meu colega me mostrou a algema. Então, eu pensei que ela era de brinquedo”.

A jovem mãe expressava uma mistura de sentimentos, predominando um tom de desespero, o que era compreensível.

Procurei tranquilizá-la e fui direto ao ponto:

- Eu sou da Polícia. Vou tirar a algema com o meu ‘habeas corpus”.

- Ah!? Habeas corpus?!

- Sim. “Habeas corpus” é a gíria policial para a chavinha da algema.

- Oh, moço! Você caiu do céu. Tira a algema do meu filho.

- Claro! Claro!

Voltei em casa e peguei a chave, devidamente guardada há quase uma década. A manobra de destravamento levou algum tempo. Enquanto isso, dialoguei com o garoto e com a mãe, para tranquilizá-los. Até arranquei de ambos um sorriso quando eu disse:

"Esse episódio tem lições de uma crônica que merece ser contada nos meus livros".

- Mas, por enquanto – segui dialogando – vamos ficar com meu próximo artigo semanal no Hoje em Dia.

E, como um professor que se preza, passei ao garoto um “para casa”:

- Leia meu artigo na próxima quarta-feira; e envie os seus comentários. Faça uma redação sobre tudo que você sentiu e o que você aprendeu com essa travessura. 

Ele, já se sentindo aliviado, fez um sinal positivo com o dedo polegar. E eu concluí, virando-me para a mãe:

- E, se você não fizer a redação, vou te dar uma “ocorrência”. Não é isso mesmo, Mamãe?

Ao sair da loja, eu disse ao garoto que brincar é importante. Assegurei que brincar de estudar pode ser muito divertido. Mas... algema... ah, algema não é brinquedo.

A todos eu desejo bons estudos.

© Copyright 2024Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por
Distribuido por