José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

...Mas havia essa tradição?

31/08/2021 às 15:46.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:47

Recentemente escrevi nesta coluna um artigo sobre o “dia do pendura”. É que, no Brasil, comemora-se o Dia do Advogado em 11 de agosto. E, desde o século XIX, formou-se a tradição de os estudantes de Direito comparecerem a um restaurante, pedir do bom e do melhor e “decretar que a conta está pendurada”.

De todos os comentários que recebi, o que mais me marcou foi por telefone. E me veio a seguinte pergunta, que dá título a esse artigo: “Mas havia essa tradição”? E, de fato, essa forma de comemoração está caindo em desuso. Palmas para os estudantes.
Mas esse artigo também poderia se chamar “dia do despendura”. Porque um grupo de estudantes decidiu fazer o contrário: em vez de sair sem pagar a conta, arrecadaram fundos e doaram à proprietária de restaurante em sérias dificuldades financeiras. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=IkWJo7cj1mI

Por causa da pandemia, ela demitiu vinte trabalhadores, entre os quais um garçom com 40 anos de bons serviços. Com os valores recebidos, ela pôde saldar suas contas e recontratar todos os funcionários.

Encontramos outros bons exemplos nos trotes aos calouros das faculdades. Não faz muito tempo e tínhamos notícias de humilhações de todos os tipos. Até mortes foram registradas, decorrentes de trotes violentos e irresponsáveis.

Mas – também nesse ponto – as “novas tradições” merecem aplausos. A Faculdade Promove, por exemplo, instituiu o “trote solidário”: arrecadação de alimentos e roupas em prol de um asilo. Outra instituição motivou seus alunos veteranos a levar os calouros até o Hemominas para doarem sangue.
No meu tempo de veterano da UFMG, tive minha primeira “experiência de magistério”: entrei em sala e me apresentei aos calouros como professor. Meus cúmplices trataram de espalhar o boato de que eu era um professor chato e muito exigente. 

Entre uma cena e outra de disciplinador, para assustar o mais aplicado dos alunos, falei sobre coisas úteis que, se ninguém falasse, os calouros levariam vários meses para ficarem sabendo. No final, mesmo com sensação de que foram feitos de bobos, eles agradeceram pelas dicas.

Então, tomara que o “dia do pendura” e os trotes violentos sejam, cada vez mais, coisas do passado. Porque o ambiente universitário deve ser o lugar onde se formam pessoas entre as mais vitoriosas, seja nos concursos ou na iniciativa privada.

E, quanto a tudo aquilo que for de mau gosto, que seja logo extinto. Assim, eu seguirei ouvindo a mesma pergunta em tom incrédulo: “Mas havia essa tradição”?

A todos eu desejo bons estudos. 

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