Estamos nos aproximando do dia 8 de março, dedicado às mulheres. Mas... e essa estória de que mulher gosta de apanhar? O vídeo em que o dramaturgo Nelson Rodrigues afirma essa asneira é pouco esclarecedor. Porque é impossível sabermos se ele falou isso por bravata de mau gosto, ou se estava se referindo a uma das suas muitas personagens femininas.
Desde 2014, já prestei várias homenagens às mulheres nesta coluna. Foi assim nos artigos: 1) “concurseiras, perdoem-me (15.3.14); 2) “o lepo-lepo e a concurseira” (23.3.14); 3) “mulher, não” (3.3.16); 4) mulheres que o dinheiro não compra (28.2.17); “há Mulher e mulher” (4.3.20).
De todos esses textos, o que o público mais gostou foi “mulher: direitos iguais, aprovações diferentes” (5.3.15). E recebi milhares de agradecimentos, pelas reflexões feitas.
A terceira edição do livro COMO PASSEI EM 15 CONCURSOS é dedicada às mulheres, onde você pode ler os artigos acima. Essa é a última edição impressa, que também apresenta uma coletânea de poemas sobre a trajetória de uma mulher especial, desde a origem pobre até o cargo de juiza (com meandros de um belo romance).
Então, eu me sinto à vontade para criar um título estranho, como o do artigo que agora escrevo, só para dar um sustinho aos desavisados. E, para me socorrer de um eventual julgamento de quem leu apenas o título, eu recorro à riqueza extraordinária das línguas latinas, com especial destaque para o nosso Português.
Se uma costureira diz “vou consertar a manga”, a frase está num contexto distinto da mãe que chama a atenção do filho: “Desce do pé de manga, menino”. Aliás, “pé” é outa expressão que gerou dificuldade para se traduzir “Meu Pé de Laranja Lima”, um clássico de José Mauro de Vasconcelos. Em Inglês ficou assim: “My Sweet Orange Tree”. E em Espanhol: “Mi Planta de Naranja Lima”.
Então, pensemos nos vários sentidos do verbo “apanhar”. E, no que se refere a levar a sério os estudos, mulher gosta de apanhar... os melhores frutos dos seus esforços.
No Aurélio, dos 10 sentidos do verbo “apanhar”, apenas um se refere a “ser espancado”. Veja a nobreza de vários significados: 1) ajuntar o que está espalhado (mulher é craque em ajuntar o material de estudo); 2) levantar o que está no chão (mulher sabe levantar a si mesma e a quem ela ama); 3) agarrar ou segurar algo (mulher, quando quer, se agarra a seus objetivos).
Então, desejo a todas as mulheres muito sucesso por meio dos estudos.