José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

O pai se foi, o filho cumpriu a promessa

Publicado em 02/11/2022 às 06:00.

Neste dia dedicado aos finados, homenageio um dos mais brilhantes alunos que eu tive. Ele começou o curso de Direito aos 56 anos de idade. Na formatura, já com 60 anos, dirigiu-me a palavra chorando e disse:

- Hoje eu estou cumprindo minha promessa.

Ficamos proseando por longos e agradáveis minutos. E ele detalhou uma linda história até chegar àquele momento solene de receber o diploma. Contou-me que o pai, no leito de morte e com 85 anos, chamou todos os filhos e falou:

- Eu comecei meu curso de Direito aos 60 anos, quando muitas pessoas já estão se aposentando. Com muito sacrifício, me formei com 65. Agora, com 85 anos de idade, estou para ir embora desta vida. Mas, olhando para trás, eu me lembro desses 20 anos em que exerci a advocacia. E valeu a pena. Porque 20 anos é uma eternidade.

Os filhos, que também já começavam a jornada na “melhor idade”, eram bem-sucedidos do ponto de vista financeiro. Mas não tinham formação universitária. E o pai, numa de suas últimas palavras, pediu a todos eles a promessa de voltarem a estudar, até se formarem (nem que fosse para dar bom exemplo aos netos e bisnetos que ainda viriam).

Todos os filhos prometeram solenemente o que o pai pedira. Meia década depois, vieram as formaturas em Psicologia, Engenharia e noutras áreas, para a alegria de cada uma das famílias já formadas (e acrescidas daqueles netos e bisnetos, outrora sonhados). E claro: tudo isso era fonte de contentamento do patriarca, que a tudo admirava lá do Céu.

Faltava, porém, a formatura de um dos filhos: o meu aluno. Mas, naquele ano de 2015, quando se aproximava o Natal, e durante a solenidade de formatura, ele veio me contar essa história. E não conseguiu segurar as lágrimas ao concluir: “Hoje eu estou cumprindo minha promessa”.

Então, neste dia dedicado aos nossos entes que já se foram, pense naquele que te dá mais saudade. E procure resposta para esta pergunta: “O que eu posso prometer a ele para, de onde ele estiver, fazê-lo feliz”?

Eu te garanto que, ao prometer um sério engajamento nos estudos, o seu ente finado ficará feliz. E os que ainda estão no seu convívio ficarão muito mais felizes. E, quando começarem os seus triunfos, com as aprovações que você nem sonhava em conquistar, é você que se tornará bem mais feliz.

A todos eu desejo um bom feriado. E bons estudos.

* José Roberto Lima é advogado, professor da Faculdade Promove, autor de “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.

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