José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

O que você tem na cabeça?

15/06/2021 às 14:24.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:10

Nos últimos dias a TV Senado se transformou numa campeã de audiência. A CPI da Covid é a principal atração. E as intervenções dos senadores atendem a todos os gostos ideológicos, conforme o parlamentar seja a favor ou contra o governo.

Um depoimento chamou a atenção: o da Doutora Nise Yamaguchi. Há quem diga que ela foi oprimida por ser mulher. Há quem duvide dos conhecimentos científicos dela.

Não sou juiz dessa causa. Também não sou indicado para falar sobre os conhecimentos daquela depoente. Mas, como advogado e mestre em Ciência da Educação, um detalhe não me passou despercebido, do ponto de vista da Pedagogia.

Refiro-me às perguntas feitas por um senador, que tem a mesma profissão de médico da Doutora Nise. Em vez de responder objetivamente, ela dizia frases longas, sem enfrentar a pergunta, enquanto folheava os textos que trazia consigo.

Houve um momento em que o Senador Otto Alencar sugeriu claramente: “Pode pegar o livro aí, porque a senhora não tem na cabeça”. Isso me fez lembrar uma banca acadêmica, da qual participei para avaliar um trabalho de conclusão de curso, o temido TCC.

O aluno estava visivelmente desconfortável desde o início da apresentação. E não era sem motivo o clima de tensão. Porque havia suspeitas de que o trabalho era um plágio. Então, eu fiz algumas perguntas sobre o texto do candidato.

Ele não soube explicar nenhum dos capítulos do trabalho, supostamente dele. Nem sequer o título ele comentou adequadamente. Para cada pergunta, ele usava frases longas e evasivas, enquanto folheava o trabalho, buscando desesperadamente uma resposta.

E um dos membros da banca assim se manifestou: “Não queremos o que está no texto. Queremos o conhecimento que está na sua cabeça”. O aluno pediu um tempo... voltou a consultar o texto... e nada de responder adequadamente às perguntas.

Foi nesse ponto que ele pediu uma nova data para apresentar o TCC. O pedido foi indeferido e eu fundamentei verbalmente:

- Se te déssemos outra oportunidade, seríamos injustos como os seus colegas. E eu só teria uma pergunta a te fazer: o que você tem na cabeça?

Então - leitor ou leitora - independentemente da sua opinião sobre o depoimento da Doutora Nise Yamaguchi, leve a sério os estudos. Porque, durante as provas e as provações que a vida te dará, ninguém estará por perto para te dizer: “Ah, coitado”.

Quando você receber a folha de prova, não adiantará protestar: “Perguntaram exatamente o que eu não estudei! Isso é um desaforo”. E, para as provas orais, você não terá oportunidade de consultar os livros, os manuais, e nem mesmo o seu próprio TCC.

A todos eu desejo bons estudos.

  

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