Os sonhos e o que o padre falou

 Ser bem-sucedido nos estudos, o que inclui ser bem-sucedido num concurso ou no Enem, depende de um conjunto de circunstâncias que vão muito além de estudar. Aliás, estudar muito, na esperança de aprender muito, é uma grande ilusão.

Muito melhor é estudar com qualidade, o que inclui essas outras circunstâncias. Entre elas, merece destaque o contexto afetivo em que o candidato se encontra, para se transformar num forte concorrente.

Conheci muitos alunos e muitas alunas que, em vez de relações humanas de qualidade, eram hostilizados(as) por causa de sentimentos mesquinhos. Para todos eles (e para todas elas) eu recomendei a ousadia de sonhar. Sonhe dormindo e, a cada amanhecer, continue sonhando, no sentido de lutar para transformar os sonhos em realidade.

Esse sentido amplo do verbo “sonhar” nos remete a uma frase de Mário Lago, autor de Trem das Onze, Amélia, além de ter sido excelente ator, dramaturgo, poeta, escritor... sonhador, enfim. Eis o que ele disse por meio de um dos seus personagens: “Se não existisse sonho, a humanidade não teria inventado nem a roda”.

Para sonhos nessa dimensão, o ideal é que tenhamos boas companhias para sonharmos juntos. Mas, numa relação conjugal, por exemplo, o progresso da esposa pode levar ao medo da perda experimentado pelo marido (ou vice-versa). Aí, surgem conflitos e os sonhos são as primeiras vítimas.

É por isso que, na música Medo da Chuva, Raul Seixas canta assim: “Eu não posso entender tanta gente aceitando a mentira / De que os sonhos desfazem aquilo que o padre falou”. Porque, de fato, muitos cônjuges, sobretudo alguns maridos, exigem que a esposa renuncie aos sonhos.

No tempo em que eu trabalhei na Delegacia de Mulheres, desde a sua fundação em 1986, vi muitos relacionamentos desmoronarem assim, levando junto os sonhos. Deve ser por isso que, como diz a música do Maluco-Beleza, o discurso de alguns líderes religiosos, durante um casamento, é focado na renúncia.

Mas se você não está disposto (ou disposta) a abrir mão da ousadia de sonhar, escolha a companhia de quem não se sente ameaçado(a) pela sua firme vontade de triunfar nos estudos, conquistando assim um cargo de prestígio, seja no setor público ou privado. Porque Raul Seixas tem outa música, na qual ele diz assim: “Um sonho que se sonha só / É só um sonho que se sonha só / Mas o sonho que se sonha junto é realidade”.

A todos eu desejo bons estudos.