Parece que eu estava adivinhando o tema da redação do Enem: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Há pouco mais de um mês, precisamente no dia 11.10, escrevi nesta coluna o artigo “as mulheres venceram”.
Falei sobre a justiça de se exigir uma performance diferente da dos homens nos concursos em que há testes físicos. Mas é claro que surgiu o inconformismo dos misóginos, assim considerados os “machos” que não se conformam em ver a mulher prosperar. “Por acaso a mulher na Polícia enfrenta os bandidos com a mesma coragem que os homens?” - essa foi uma das críticas que me enviaram.
Então, com o tema proposto pelo Enem, tenho a oportunidade de comentar a crítica daquele leitor. E, com as minhas décadas de atividade policial, respondo eloquentemente: “A mulher, muitas vezes, enfrenta os bandidos com mais coragem que certos homens”.
Mas voltemos ao tema do Enem, sobre as tarefas e cuidados invisíveis da mulher. Suponha, prezada leitora, que você tenha um companheiro ou marido que colabore em todas as suas tarefas. Suponha que ele dispense ao lar e aos filhos a mesma dedicação que você também dispensa. Suponha que ele te dê a mesma atenção que você dá a ele. Ainda assim, há tarefas que somente você pode cumprir, como a amamentação, por exemplo.
E como ficam os estudos? E o Enem? E o concurso dos seus sonhos? Eu tenho uma boa notícia para a leitora, especialmente se você tem crianças para cuidar. Você tem tudo para engrossar a extensa lista de alunas que brilham nos estudos.
Então, vamos à boa notícia: em média, uma em cada duas mulheres alcança a aprovação almejada. Quando a candidata é mãe, esse percentual sobe consideravelmente. Estudos da Universidade de Virgínia/EUA sugerem que “durante a maternidade as mulheres contam com um aumento de cerca de três vezes na memória”. Isso pode estar relacionado aos instintos primitivos da fêmea, empenhada em cuidar da cria, protegendo-a dos predadores. Mas “mesmo as mães adotivas experimentam o mesmo aumento de memória”.
Minha vivência no Magistério indica esta explicação: o sucesso nos estudos, para a mulher, pode representar a verdadeira libertação feminina. Quando a candidata é mãe, podem ser duas as pessoas a serem libertadas: ela mesma e a criança. Afinal – convenhamos – não é todo dia que se encontra um marido ou companheiro que colabora nas “tarefas invisíveis”.
Tomara que seja o seu caso, nobre leitora. Então, eu te desejo bons estudos.
*José Roberto Lima é advogado, professor da Faculdade Promove, autor de “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.