A atividade esportiva tem um ponto comum com os concursos públicos: o gosto da vitória, que só pode ser apreciado quando há igualdade de condições na disputa. Mas infelizmente alguns torcedores rompem a igualdade quando dirigem condutas racistas aos adversários. A FIFA vem se empenhando para combatê-las, contando com o apoio de governantes e dos próprios clubes. Em Barcelona, por exemplo, nos portões do estádio “Camp Nou”, há placas semelhantes às de trânsito, todas com um corte indicando proibição. Os desenhos são de facas, de revólveres e também da suástica nazista, que é associada à intolerância racial.
Esses esforços, mesmo com bons resultados, não podem entrar na cabeça de todos. Então, persiste o preconceito de alguns torcedores. Eles são pouquíssimos, mas exercem influência sobre muitos. A última vítima foi o Tinga, do Cruzeiro, durante uma partida contra o Real Garcilaso, do Peru. A indignação uniu cruzeirenses e atleticanos, o que foi a primeira grande vitória contra o racismo. E vieram outras: manifesto de dirigentes e atletas, pedido de punição formulado pelo Cruzeiro, solidariedade da Presidenta Dilma e do Presidente Hollanta Humala, do Peru.
Em analogia aos concursos, deixar sem punição esse episódio seria como impedir a entrada de um candidato ao local de prova porque é afro-descendente ou porque o porteiro não se simpatizou com ele. Não vivemos na era dos barões, quando os cargos eram ocupados pelos amigos. Passou o tempo em que os atletas mestiços, para serem aceitos, aplicavam pó de arroz na pele no intuito de clareá-la. A propósito, esta é a origem da denominação dos torcedores do Fluminense, numa referência aos primeiros atletas que se valeram desse expediente. Não! Definitivamente nosso tempo é outro.
Vivemos no tempo das oportunidades iguais (nos concursos e nos esportes). Quando a atitude de algum torcedor destoa disso, compreendemos as palavras do próprio Tinga: “Trocaria um título pela igualdade de raças”. É por isso que, ousando representar milhares de pessoas que se preparam para concursos, eu digo: Tinga, você é um concurseiro do gramado.