Muitos compradores se decepcionam ao perceber que, mesmo após anos de pagamentos regulares do financiamento imobiliário, o saldo devedor no banco quase não se altera. Outros se espantam ao constatar que o montante total pago, somando todas as parcelas, pode chegar até três vezes o preço do imóvel. Há ainda aqueles que, no momento da entrega das chaves do imóvel comprado na planta, enfrentam cobranças adicionais amparadas por cláusulas de difícil interpretação, ficando arrependidos de não terem estudado melhor o contrato.
Essas situações geralmente decorrem da falta de domínio em matemática financeira e da leitura apressada de contratos complexos. Termos como correção monetária, capitalização de juros e “cláusulas interligadas” passam despercebidos ao consumidor comum que confia que uma grande empresa não fará nada para prejudicar o cliente.
O entusiasmo inicial costuma vir do valor da parcela mensal, que parece caber no orçamento familiar. Porém, nesse entusiasmo, muitos deixam de considerar fatores determinantes como a capitalização da correção, mudanças de índices, juros, prazos, multas, dentre outros.
Além disso, não são raras as previsões de cobranças adicionais, escondidas em cláusulas de difícil compreensão, mas cuidadosamente elaboradas para favorecer a construtora ou o banco.
Na prática, a maior parte do pagamento nos primeiros anos no Sistema de Amortização Constante (SAC) é destinada apenas aos juros. A amortização do valor principal acontece apenas após vários anos. Por isso, o saldo devedor permanece praticamente inalterado por longo tempo.
A maioria dos compradores só percebe a importância de uma assessoria especializada prévia quando já se vê diante de cobranças inesperadas ou em meio a dificuldades financeiras. Tratar a compra de um imóvel, muitas vezes o bem mais caro da vida, como se fosse a aquisição de um eletrodoméstico é um equívoco perigoso.
Um deslize em um contrato dessa natureza pode comprometer economias de décadas. Ainda assim, muitos acreditam que construtora, corretor ou gerente de banco irão alertá-los sobre os riscos. Mas é evidente que todos esses agentes têm interesse direto na venda: a construtora busca lucro, o banco amplia sua carteira de crédito e o corretor, por sua vez, foca na comissão.
Negócios imobiliários envolvem altos valores e riscos complexos. A orientação de um advogado especializado não deve ser vista como gasto extra, mas como proteção indispensável. É ele quem garante que o comprador compreenda todas as obrigações, preserve seu patrimônio e transforme a aquisição em um passo seguro, e não em uma armadilha financeira.
Com acompanhamento jurídico adequado, o consumidor consegue identificar riscos antecipadamente, questionar cláusulas abusivas e renegociar condições mais justas antes da assinatura do contrato. Assim toma decisões conscientes, evitando surpresas futuras e o arrependimento de não ter refletivo antes.