Vivemos na era do imediatismo, com as pessoas decidindo questões complexas de forma superficial e com base no senso comum de opiniões de amigos ou “entendidos”, mediante uma simples conversa na qual deixam de ser analisados documentos e dados importantes, os quais precisariam de conhecimento profissional e experiência na avaliação.
O resultado está no site CNJ/ Justiça em Números, tendo no ano de 2023 sido ajuizados 35 milhões de novos processos nos tribunais em geral, o que implica em 9,5% a mais em relação a 2022. Além disso, o ano encerrou com 83,8 milhões de processos pendentes de julgamento, sendo crescentes os litígios da área cível que abrange os contratos de locação, compra e venda, incorporação, condomínios, inventários, permuta, comodato e etc.
Muitos litígios seriam evitados se os contratantes agissem com cautela, mediante prévia orientação jurídica especializada apta a reduzir riscos. Em vários casos a análise técnica orienta a deixar de concluir uma transação diante da probabilidade de prejuízo, gerando assim tranquilidade para que este venha a fazer outro negócio seguro e lucrativo.
O setor imobiliário consiste num dos maiores geradores de processos judiciais, sendo que isso poderia ser evitado com a consultoria prévia que tem um custo entre 1% e 2% do valor da transação. Consiste em um erro imaginar que a imobiliária e o corretor farão uma profunda análise de todos os riscos que superam as cláusulas do modelo de contrato.
O foco do corretor é estimular o fechamento do negócio para receber sua comissão de 6% do valor da venda, não tendo este conhecimento ou obrigação em realizar um trabalho mais complexo. Esta expertise é cabível a um advogado especializado em Direito Imobiliário, sendo comum a análise superar o que está escrito no contrato padrão de promessa de compra e venda.
Há enorme diferença de foco entre o corretor e o advogado, pois o primeiro só consegue sua remuneração se fechar o negócio, mesmo com riscos, já o segundo visa proteger o seu cliente de riscos além dos previstos no contrato. O corretor, por uma questão lógica, deixa de criar dúvidas que possam desestimular o recebimento da sua comissão.
Por temer que o advogado alerte sobre alguma questão que ultrapasse a simples análise das certidões do imóvel e dos vendedores ou compradores, há corretor que orienta as partes a deixarem de contratar um advogado, sob a alegação de que tal despesa é desnecessária pois ele “confere e garante que toda documentação está em ordem”.
Causa perplexidade os bilhões de reais que são perdidos nos processos judiciais que perduram por mais de dez anos, sendo comum a parte prejudicada confirmar que rejeitou orientação jurídica prévia, que confiou nas promessas e na sorte ao assinar o contrato sem compreender termos técnicos e suas cláusulas, em especial as não escritas que, às vezes, são as mais importantes.
Os banqueiros, construtores e empresários de sucesso tratam seus negócios de forma racional, seguem as orientações dos seus advogados, não apostam na sorte e nem agem movidos pela emoção, devendo ser exemplo para quem quer comprar um imóvel, seja para investimento ou para moradia.