Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A água de BH

27/09/2021 às 17:30.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:57

Nestes dias de generalizada falta de água no Sudeste brasileiro, e estando Belo Horizonte inserida no contexto das dificuldades que são muitas, e das propostas de poucas e de difícil execução, pus-me a reler um precioso estudo sobre o abastecimento hídrico da capital, de 1890 a 1973, elaborado pelo engenheiro Newton dos Santos Vianna, editado em 1997. O autor, antigo servidor do não mais existente DAE - Departamento de Águas e Esgotos da PBH -, mereceria ser lido.

Newton Vianna oferece um quadro bastante correto de que aconteceu aqui nos dias em que a água costumava não chegar regularmente às torneiras das residências e aos estabelecimentos comerciais, resultando em críticas, queixas e reclamações, que repercutiam obviamente nos veículos de comunicação. No Gabinete do Prefeito, a que servi durante anos, inclusive como chefe, pessoas e comissões se sucediam com incessantes pedidos de providências, evidentemente urgente.

Foi época difícil, somente amenizada quando as chuvas chegavam e rebentavam as redes de água ou de esgoto, impondo pesados serviços aos operários que entravam pela noite, quase sem descanso, para sanar o pérfido desafio. Em horas avançadas, sequer sem iluminação suficiente para facilitar a missão dos trabalhadores, lá também surgiam engenheiros para orientação e, por que não dizer: o redator desta crônica, acompanhando as equipes de Imprensa, que estas tampouco têm hora para seus misteres.

Competentes astros da engenharia participavam dos esforços para resolver o problema de água da capital, tão jovem e já prenhe de desafios. Mas existiam ainda encarregados de serviço sempre prontos a participar dos trabalhos para que a população não ficasse sem água, o que constitui tortura em qualquer hora e lugar. Era de inestimável valor a cooperação de todas as equipes. Estas se formavam na observação diária do esforço de cada um, encarregado ou operário, sempre vistos com bons olhos e admiração.

Havia o João Silva, que – mesmo aposentado – dava assistência não remunerada. O engenheiro Alberto Macedo conviveu com ele fora da prefeitura e se lembra do que costumava dizer: “25% das pessoas são boas e honestas, 25% têm mau-caráter e 50% seguem quem está por cima. Quando os bons detêm as posições de mando, 75% é de gente de bem, mas quando os maus estão por cima é um verdadeiro desastre”.

Mas, havia muito mais a requerer do poder público. É o que se vê nesta primeira metade do outro século.

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