Por mais que se queira, não se esquece o acontecimento político-administrativo-jurídico que marca estes meses de 2016 na nação brasileira. O que se espera é que se extraiam lições, evitando que caiamos novamente na mesma aventura, que exigirá muitos anos para ser debelada como uma febre maligna.
Embora por sua grandeza e importância o Brasil sempre ocupou posição de destaque no cenário latino-americano, desta vez (e não apenas como consequência das comunicações, mais rápidas e eficientes), o nosso problema ganhou novas dimensões. Cuidava-se de aproximar o governo brasileiro de nações como Cuba, Venezuela, Equador, Peru, Bolívia, Nicarágua e El Salvador.
Assim, enquanto aqui o problema evoluía pelas vias naturais e conhecidas, surgiam dirigentes de nações para opor-se ao que acontecia, sem serem chamados. Uma delas foi El Salvador, com pouco mais de 21 mil quilômetros quadrados, o menor país da parte continental da América Central e o único da região sem litoral no mar do Caribe.
Pois o pequeñito da América Central se sentiu no direito de protestar contra o que ocorria no Brasil e os caminhos propostos para dirimir a questão, delicada principalmente para os brasileiros, que querem ao menos viver em paz e dentro da lei, destinando os mercenários e aproveitadores para os lugares que merecem.
Embora reduzido em dimensões geográficas, El Salvador ostenta experiências em termos de golpe. Em 1932, enquanto aqui se dava a Revolução Constitucionalista a partir de São Paulo, 30 mil camponeses, chefiados por Farabundo Marti, foram massacrados pelo Exército. De 1945 a 1961, o país foi sacudido por crises institucionais, com ascensão e queda de governos em golpes de Estado. Apesar de tudo, viveu relativo período de progresso econômico na década de 1950.
Em 1969, houve a guerra com Honduras por fronteiras. Trezentos mil salvadorenhos escaparam ao país vizinho e houve intervenção da OEA, pondo fim ao conflito, mas a violência política se intensificou nos anos 1970, com ação de grupos de extrema direita, esquadrões da morte, e da esquerda.
Em 1980, o arcebispo da capital Dom Oscar Romero, defensor dos direitos humanos, foi assassinado, dando começo a uma guerra civil. Uma junta assumiu o poder. As ações da guerrilha desestruturaram o sistema de transporte, energia e comunicações. Três freiras e uma funcionária dos EUA foram assassinadas por militares. A Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional dominou um quarto do território e o conflito se estendeu a todos os setores da vida nacional.
Em 2010, a onda de violência percorria todo o país. Em julho, uma gangue ateou fogo a um coletivo. O governo aprovou uma lei que tornava crime participar de guerrilhas. Estas paralisaram os transportes públicos e o comércio. Segundo a Organização Mundial de Saúde, El Salvador é o país com maior taxa de homicídios no mundo. Carlos Taquari classifica o país como uma terra banhada em sangue. E querem meter o bedelho nas nossas questões.