Este ano é de eleições. Desta vez as municipais, em 15 de novembro, data da proclamação da República no já distante 1889. Tempo de grande movimentação de populações no interior, onde a presença de autoridades é mais marcante. Outrora, oportunidade para tiros de espingarda e de garruchas 320 ou 380, ou para foguetórios antes, durante ou depois das votações. Tempo perigoso, sim senhor.
Geraldo Tito Silveira, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e das Academias Montes-Clarense de Letras e João Guimarães Rosa, lembra a sua época de menino em Brejo das Almas, nome que inspirou o título de um de seus livros.
Quando o Brejo era distrito de Montes Claros, hoje é cidade e se chama Francisco Sá, tomava jeito de grande centro. Logo de manhã, começavam a chegar os grupos de eleitores, montados a cavalo e vindos de lugares distantes.
Que se vissem os bravos mineiros do sertão. Muitos calçavam pela primeira vez um par de botinas ringideiras, e andavam pisando em ovos. Quando apertavam demais, comprimindo os dedos causando formigação, eles as tiravam dos pés, amarravam uma na outra, as punham no ombro. E desfilavam cuidadosamente para não se machucarem mais. Mas, não se descuidavam, engravatados, e com os pés no chão. Um espetáculo inesquecível.
O autor recorda que o eleitor votava às claras, evidentemente no candidato do chefe ou patrão. Lá, no velho Brejo, os dois líderes – o coronel Jacintho de um lado da urna e o coronel Olímpio, do outro lado. O conterrâneo entra em cena, recebe a cédula nas mãos do chefe e coloca lá na urna. Todo mundo via.
Uma vez, o cidadão João Magalhães ganhara um cavalo de presente em troca do voto. Na hora da votação, ele entrou em cena, mas um coronel advertiu: “Este é meu eleitor, compadre. O senhor deve estar confundindo com outro”. O munícipe colocou o voto na urna, mas quando saiu da seção, viu que seu cavalo sumira. Para sempre.