Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A Idade Média

02/04/2020 às 18:41.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:10

 A pergunta pode parecer uma crítica à evolução do homem e da sociedade, diante do que enfrentam as atuais gerações. Mudou muito, mas precisaria acabar, o que está longe das perspectivas, a julgar pelo que os médicos, cientistas e técnicos do setor de saúde têm revelado, com o advento do novo coronavírus, no século XXI.

O estudioso da Idade Média Ivan Lins se manifesta sobre o assunto, dizendo: “O pior dos flagelos medievais, por sua extensão e pelos seus efeitos, eram as epidemias, porquanto, nem a higiene nem a profilaxia, ainda menos a medicina, principalmente nos períodos de guerra e de recessão econômica, eram capazes de deter-lhe as devastações. Pela sua tríplice forma; bubônica, pulmonar e intestinal, a epidemia trazida do Oriente, em 1344, por navios genoveses, engloba todas as outras sob a denominação geral de peste.”

Especificamente sobre calamidades públicas, Michel Mollat se refere ao problema em “Difficultés Matérielles de L’Europe”, em 1955: “sem contar contágios locais, já havia a Europa tomado conhecimento de outras epidemias generalizadas, como, nas proximidades de 1315, a disenteria e diversas variedades de infecções nos países do Norte, desde a Suécia até o Loire. Depois da grande pandemia de 1348, os sobreviventes viram renovar-se o flagelo em 1358 e 1360, entre 1373 e 1375 e, de maneira mais difusa, entre 1380 e 1400.

Em 1389, em Paris, não se cuidava senão de enterros a cada instante, a ponto de se proibir o seu anúncio pelos pregoeiros públicos. Em 1414 e 1427, a coqueluche (tac, euquete e dando) abafava, nas cerimonias religiosas, a voz dos oficiantes. Em 1431, a peste fez milhares de vítimas entre os jovens, e voltou, generalizada, com a varíola, em 1438.

Procurou-se explicar o fenômeno: invocava-se a conjunção dos astros e má reputação de Marte, enquanto os remédios preconizados eram os mais contraindicados, como o de evitar o arejamento de casas e quartos. Por outro lado, as habitações eram infestadas de ratos e pulgas, perambulando livremente pelas ruas suínos e outros animais, atirando-se os dejetos na via pública, sem o mínimo constrangimento. O primeiro esgoto subterrâneo em Paris só foi construído em 1356.

À época, os cemitérios funcionavam nas áreas dos mercados, mas já escrevi sobre isso. Em tempo de corona, alguma coisa do século 14 se mantém. Mas as autoridades de saúde e seus servidores têm demonstrado eficiente e decisiva disposição de vencer o monstro. É essencial. O mundo moderno tem ainda muito a fazer pelo homem.

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