Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A prova de bala

30/06/2021 às 08:15.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:17

Atravessa o Brasil um período perigoso de sua história como democracia. Os fatos a que se assiste, interminavelmente, deixam dúvidas sobre a evolução de nosso regime político. Conheço magistrados ilustres, relativamente jovens no exercício da nobre profissão, que confessam aguardar com certo grau de ansiedade a hora da aposentadoria.

Ser honesto, digno, imparcial, se tornou sumamente difícil. Será até fácil identificar as razões que movem esses agentes da lei e do direito.
Quem acompanha o noticiário dos veículos de comunicação não mais se espanta com o teor das publicações. A experiência do Luiz Sérgio Moro, que conduziu a um halo de esperança a luta contra a corrupção, esboroou-se num passe de mágica, depois de a nação receber de volta milhões de reais desviados de seus cofres.

Alguns pagaram com prisão, com exposição de seus nomes à condenação e execração pública. Mas o magistrado de Curitiba foi atirado ao poço da incompreensão e reprovação em decisões da mais alta corte da Justiça.

Após o renhido embate entre defesa e acusação, o Brasil põe dúvida presentemente se valeu a pena o esforço desenvolvido pela operação Lava-Jato. Esta chegou a empolgar os homens de bem em instantes candentes do processo (ou dos processos). Que há de pior que o desencanto dos cidadãos probos? Até onde pode o juiz ser condenado pela situação a que a operação Lava-Jato o conduziu?

Fatos recentes corroboram o sentimento nacional, a dúvida, a confiança em dias melhores, o que explica e justifica a atitude de magistrados que preferem se desfazer da toga a se macular. Um simples pormenor chama a atenção. A caminho da Comissão Parlamentar de Inquérito, criada no Senado Federal para o caso específico da pandemia, um dos chamados a depor, deputado, adentrou a sala de reuniões com um colete à prova de balas. Declarou que o fazia pelas ameaças que estava recebendo em torno de suspeitas de irregularidades na aquisição de vacinas pelo governo federal. Tem-se de perguntar: que país é este?

A frustração dos bons constitui uma ameaça a melhores dias que sonharam e sonham os brasileiros que ainda confiam na vitória do bem sobre o mal, dos corretos sobre os autores e atores do mal, dos adeptos da ideia do quanto pior, melhor. E, como escreveu Shakespeare, em “ O Mercador de Veneza”. Ponha dinheiro no bolso.

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