Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A semana de 1922

Publicado em 09/02/2022 às 06:00.

Este é um ano especialmente importante para o Brasil. A começar, porque o do bicentenário da Independência. No campo das letras e artes, porque é dos 100 anos da Semana da Arte Moderna, cujas comemorações já começaram a aquecer principalmente nas grandes cidades, a despeito das dificuldades, de múltipla natureza, impostas pela perversa pandemia, a mais longa da história da humanidade.

Não é tão fácil ter-se a significação da semana. Para Mário de Andrade, ela foi identificada como o brado coletivo principal de um novo espírito, consequente de transformações em âmbito internacional e no nacional entre nós, na área artística, como na político-social.

Eclodiu em São Paulo, porque – como centro econômico da nação – atraía as vozes mais ouvidas da política e da intelectualidade e dos meios artísticos, literários e políticos, mesmo com o governo estabelecido no Rio de Janeiro. O que se fazia na capital bandeirante repercutia nacionalmente.

Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, na abertura, declarou que o público encontraria na exposição inaugural, no Teatro Municipal, em 13 de maio, “uma aglomeração de horrores”. Amainava, porém, ambiente à medida que as horas transcorriam, a não ser quando o maestro Villa Lobos subiu ao palco de casaca e chinelos. O público vaiou, como o fez com os poetas.

O mesmo não aconteceu com Agenor Barbosa, mineiro de Montes Claros, que ganhou aplausos e elogios, como contam os escritores de MOC, Ivana Ferrante Rebello e Fabiano Lopes de Paula, em excelente biografia lançada em 2020 e que merece ser mais conhecida no país.

O acadêmico Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, da Academia Mineira de Letras, lembra aqueles momentos no Municipal e o significado da presença de Barbosa, “poeta, jornalista, funcionário, o único merecedor de aplauso no famoso recital modernista recheado de apupo e vaias”, além evidentemente de Zina Aita, pintora de Belo Horizonte, que conquistou seu lugar ao sol. E tudo ocorria quando “a vida mineira era confortada e inflexível”.

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