Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A voz do São Francisco

06/06/2017 às 18:48.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:57

As obras foram orçadas em R$ 4,5 bilhões, o que se admitia em termos de custo de um empreendimento do vulto da transposição do São Francisco. O valor fora previsto em 2007, quando iniciada a obra, para terminar em 2012. Passados anos, contudo, não foi integralmente concluída.

O presidente Temer esteve em cidades de Pernambuco e da Paraíba, há dois meses, para inaugurar a primeira transmissão das águas beneficiando uma pequena população, quando se estipulara o atendimento a 390 municípios. Realmente um plano ousado, mas de elevado sentido social e humano. Só que no Brasil os planos não se cumprem, mesmo quando cuidadosamente elaborados.

É preciso confiança e esperança e, lamentavelmente, estas o povo perde à medida que falham ou atrasam os empreendimentos. Nem com a bênção do milagroso São Francisco efetivamente aconteceu a duplicação do orçamento. A estimativa era de R$ 4,5 bilhões. Já foram empregados mais de R$ 9 bilhões e muito mais terá de sair das burras do Tesouro.

Enquanto flui o tempo, ele mesmo nos decepciona. Falta água no Brasil, na bacia do Velho Chico, as populações se inquietam com a possibilidade de longas estiagens e, o pior, com a firme certeza de que não se fez o dever de casa com mister.

A água não alcançou inteiramente o Nordeste esperado, mas já inquieta a falta de chuvas na medida necessária. E, consequentemente, com o provável racionamento de energia. Num país que se pretende maior produção, eletricidade é essencial, não é só para as torneiras.

A Cemig pensou em fazer testes para suprir o Jaíba, mas por enquanto resta aguardar. Atender o Jaíba e região exige águas, e estas viriam do São Francisco, sempre ele. 

Em obra pública, de engenharia, não bastam fé e esperança. Daí a preocupação. No tempo de Israel Pinheiro governador, elaborou-se o Planoroeste, um corajoso projeto para irrigar o vale do rio Jaíba. Com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) fez-se a obra, que produz bastante e hoje representa 27 mil hectares de área plantada em região de seca. A Imprensa diz: é uma potência nacional na produção de frutas, inclusive para exportação. Mas irrigar exige água. E esta já falta no volume imprescindível para a barragem do rio Juramento, que atende a região de Montes Claros.

O frei Luiz Flávio Cappio, que tem no São Francisco sua área de atuação e foi até perseguido, faz – neste 2017- seu diagnóstico:

“A cada ano o rio se apresenta mais fraco, raso, com coroas imensas de areia em seu leito. Além disso, os peixes estão desaparecendo. Esse quadro só poderá se reverter quando um projeto sério de revitalização for levado a contento. “Anêmico não doa sangue”. Se quisermos que o rio gere vida, é preciso que ele possua vida”. 

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