Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Além da esfera financeira

28/04/2017 às 15:31.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:19

Incontestavelmente, nosso país atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história. Os responsáveis pelos destinos nacionais, pela condução do barco no mar encapelado, não encontram os imprescindíveis meios para levá-lo ao bom porto. A situação econômica não é grave, porque já se fez gravíssima, e Meireles faz propostas, defendidas pelo presidente, para amenizar a situação. 

Encontra, porém, uma oposição severa. O brasileiro não gosta de aperturas, não é capaz de suportar a adversidade, como a enfrentam povos de outras nações. Continua vendo só bondade na afirmação de Pero Vaz de Caminha, de que aqui, em se plantando, tudo se dará. Mas não apreciamos muito o difícil plantar para colher frutos lá à frente. Talvez influência do clima, que convida à preguiça. 

A ninguém escapa a dura hora que vivemos, em que faltam alimentos à mesa e remédios nos hospitais públicos. Reclama-se, procura-se culpados e protesta-se contra os altos níveis dos impostos, só pagos porque são impostos. Não se abre mão das coisas que nos deleitam, ignorando-se que o consumido no prazer nos faltará em casa. 

O mundo inteirinho conhece nossas deficiências e enormes dificuldades, embora a colheita de grãos atenue drama em nossa balança comercial e responde a Saint-Hilaire, ao afirmar que ou o Brasil acabava com a saúva, poderosa, ou a saúva com o Brasil. A nossa agricultura demonstra pujança, a despeito da inclemência do tempo e da penosa empreitada em que se transformou o transporte de safras por estradas horríveis. Aliás, a televisão tem mostrado a odisseia das carretas e caminhões para levar a bela produção aos portos, mesmo ao consumidor interno. 

Não escapa ao escriba a notícia, requentada, da manifestação de Francisco, o pontífice romano, sobre o convite que lhe foi feito pelo presidente Michel Temer para voltar ao país para conhecer de perto a situação da população carente. A correspondência respondia à mensagem que lhe enviaria para as celebrações aqui dos 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida, neste 2017. 

Argentino, torcedor do San Lorenzo, o papa, como de costume, não enrolou, nem tergiversou. Foi logo avisando: 

“Sei bem que a crise que o país enfrenta não é de simples solução, uma vez que tem raízes sócio-político-econômicas, e não corresponde à Igreja nem ao papa dar uma receita concreta para resolver algo tão complexo”.

Tem plena razão o sucessor de Pedro. Nós é que temos de dar solução aos nossos problemas, em sua maioria criados ou praticados por nossos administradores nestes oito milhões e 500 mil quilômetros quadrados de território. 

Não significa dizer que o papa ignorou ou vai ignorar o nosso grande desafio, justamente ele que tanto se preocupa com a situação que se atravessa. Mas, não se vê em condições de propor caminhos:

“Não posso deixar de pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que muitas vezes se veem completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo e dilacerante de algumas soluções fáceis, as superficiais, para uma crise que vai muito além da esfera meramente financeira”.
Da Praça de São Pedro, Francisco define: “crise que vai muito além da esfera meramente financeira”. 

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