Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

As duas faces da moeda

02/06/2017 às 18:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 17:18

Médica de minha amizade me declarou: Desde que informada pela televisão do desvio de R$ 1 bilhão na reforma do Estádio Mário Filho, a Arena Maracanã, entendo porque, de cada R$ 100 brutos que recebo, entrego R$ 27,50 ao governo. Faz todo sentido. Caso não fosse feita essa extorsão de quem trabalha, como seriam as rapinas maiores? A lógica é cristalina e inequívoca.

A moça observa:

“Lamúria surrada esta de reclamar para pagar o imposto de renda. Caso não ganhasse, não pagaria. A garganta profunda do governo é mais poderosa do que um buraco negro, insaciável, que puxa luz, tempo e vida. O que entra ali não são apenas numerários, são dores, suores, força, lutas pela sobrevivência. Todos pagam para a máquina girar. É lúcido, válido e inserido no contexto” (Paulo Diniz).

Prevê: “Entrego o meu sangue ao governo que aí está, e caio morta. Como médica, estou assim. E as demais profissões? Vitimização, a palavra anda na moda. Que seja! Quem custeará meu funeral? Pelos menos não verei nada”.

Agora, o outro lado da moeda através de um release:

 A Operação Bullish pela Polícia Federal, seis dias antes de estourar o escândalo provocado pelas acusações dos empresários Wesley e Joesley Batista envolvendo políticos de praticamente todos os partidos, expôs a relação do Grupo JBS com o BNDES. Entre 2012 e 2003, o banco teria liberado um total de R$ 2, 8 bilhões para as empresas controladas pela J&F Participações.

As empresas favorecidas com os recursos  foram a JBS S/A (R$ 6,6 bilhões), Bertin S/A (R$ 27 bilhões), Bracal Holding Ltda (R$ 425,9 milhões), Vigor (R$ 250,2 milhões) e Eldorado (R$ 2,8 bilhões). No período consultado, não foram encontradas operações para outras empresas do grupo.

Com crédito fácil do BNDES, o grupo elevou seu faturamento de R$ 4 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões no ano passado, um crescimento de mais de 4.000%. A multiplicação de riqueza levou Joesley a entrar na lista dos dez brasileiros mais ricos da revista Forbes. Com atuação em mais de 150 países, 300 unidades industriais e mais de 200 mil empregados, o grupo é o maior processador de proteína animal do mundo. Das fábricas, 56 estão nos Estados Unidos, controladas pela JBS USA Holding, que detém cerca de 70% dos negócios dos irmãos Batista, que atuam na área de carnes, alimentos, laticínios, calçados, celulose e higiene pessoal, entre outros. O grupo tem ainda um banco, o Banco Original.

Em sua delação premiada, o empresário Joesley Batista, controlador do grupo, admitiu ter pago R$ 200 milhões em propinas ao ex-ministro Guido Mantega e a outras lideranças do Partido do s Trabalhadores (PT) para facilitar a liberação de recursos do BNDES para suas empresas. “Minha relação sempre foi com o Guido (Mantega). Primeiro, até 2009 ela passava pelo Vic (Victor Sandri) – amigo de Mantega). Até lá, toda vez que eu precisava falar com o Mantega, acionava o Vic. Não sei como funcionava com o Guido e o banco. Acho que ele (Guido) pressionava o Luciano Coutinho, presidente do BNDES, que sempre foi muito formal comigo”. 

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