Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Chaliápin entre nós

23/04/2021 às 18:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:45

Refiro-me à “A vida surpreendente de Fiódor Chaliápin”, publicado em Belo Horizonte, em 2013, no qual Pedro Sérgio Lozar, em 160 páginas, relata episódios da vida do grande cantor lírico russo, baixo profundo, um dos maiores do mundo (ou o maior). O autor, conhecedor de línguas como poucos, cuidadoso na redação, como o é na revisão de textos de escritores de renome e de documentos oficiais, retrata um dos grandes intérpretes musicais do século XIX e XX, em todo o mundo.

Um livro precioso para quem quiser conhecer os costumes no velho império dos czares, quando Chaliápin era aprendiz de sapateiro, tendo como próximo o padeiro Gorki, futuro celebrado escritor. Depois, num cais do Volga, Fiódor carregava melancias e Gorki transportava sacos.

Já consagrado, percorreu todo o mundo e acumulou sucessos. Veio à América do Sul, em 1908 e visitou o Rio de Janeiro, cujo porto o surpreendeu com “bonita variedade de cores e aspecto festivo. Parecia que as pessoas trabalhavam brincando, tão leve e alegremente fervilhava a vida”.

Voltaria à América em 1930, atuando com o famoso tenor Tito Schipa, muito querido no continente. Anotou em suas memórias (traduzidas por Lozar diretamente do russo): “Cantei em toda parte. Fazia 22 anos que lá não ia. Dei um concerto no Rio de Janeiro, três dias depois de rebentar a revolução em São Paulo. Diz-me o empresário (evidentemente estava gostando de lá):

- Por favor, fique aqui uma semana, terá tempo de três concertos. 
Respondi:
- Não, desculpe; revolução não é minha especialidade. É melhor viajar para a Europa”.

Na Rússia, já sob o poder dos bolchevistas, contestou o chefe de polícia de Petersburgo, que advertiria que “vocês, atores, deveriam ser exterminados”: “Camarada X, o senhor não está certo. Parece-me que o revolucionário deve possuir um terno coração infantil. Espírito ardente e vontade forte, mas coração terno. Apenas com união o revolucionário, encontrando na rua um velho ou uma criança do lado inimigo, não lhes cravará um punhal no peito...”.

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