Quem pensa apenas em alguns consagrados poetas de Santa Catarina, como Cruz e Souza (que veio morrer em Minas Gerais) ou em Emanuel Medeiros Vieira, um dos perseguidos pela ditadura militar, engana-se. Há muitos – e brilhantes – poetas, além dos dois, alguns atuais.
Quando começava este comentário, lembrei-me “Poemas Pendentes”, do argentino Rodolfo Alonso, traduzido ao português por Anderson Braga Horta, mineiro de nossa Carangola e nome apreciado muito além de Brasília, onde vive e labora, com brilho. No livro de Alonso, a abertura é de Lêvo Ivo, não menos importante em nossa poesia. Ele escreveu:
“Poesia: a arte de fazer versos e poemas; a linguagem no seu uso supremo; uma visão do mundo; uma operação espiritual pela qual se cria um objeto verbal de natureza encantatória; um documento e memória da vida e do tempo; a realidade do imaginário”. É o que penso e sinto, ao ler “viver (não) é tudo – diário da perseverança”, de Alcides Buss lançado pelo Caminho de Dentro, de Florianópolis.
Num país com as dimensões do nosso, com os problemas cotidianos, evidentemente grande parte dos brasileiros não conhece o autor, mesmo já elogiado por Miguel Sanches Neto, Antônio Carlos Secchin, o próprio Lêdo Ivo, Carlos J. Appel, Hildeberto Barbosa Filho e Marco Lucchesi.
Alcides nasceu poeta e já o provara ainda estudante de letras em Joinville, onde editava o jornal de cultura “O Acadêmico”. Seu livro “Círculo Quadrado” foi um sucesso. Logo depois, venceu o I Festival Catarinense de Poesia Universitária, com o experimental “O bolso ou a vida?”. Não parou. Criou o Varal Literário e o Movimento de Ação do Livro: o Livro em Movimentação.
Mais ainda: promoveu a implantação do Museu de Arte de Joinville e da Escola Municipal de Dança e editou a revista Cordão. Mas se ficássemos a relacionar suas iniciativas e projetos, preencheríamos todo o espaço de hoje. Não é conveniente.
Ele observa, por exemplo: “O mundo não está pronto ainda e os meninos e meninas já vão nascer! É preciso correr contra o tempo, arrumar estes rios, pôr ordem nos morros, pentear os cabelos da Terra – É preciso mais varrer – a falta de amor, desfazer os entulhos no caminho que vai – de uns para os outros. Meninos e meninas estão nascendo e pouco foi feito pra arrumar a casa em que irão viver. – É preciso agir depressa, curar as feridas, mudar os maus modos; florir o caminho, que as crianças já vêm vindo e carregam com elas o lume da esperança”.
Com mais de vinte livros publicados, Alcides Buss promete muito mais. A poesia não morre, o poeta se refaz nos caminhos que percorre e constata: “Agora os dias já chegam mais cedo e minha alma me diz que também amanheço quando me sinto feliz. Desejo-me assim como sou e semeio no corpo o sentido de existir. E penso comigo: preciso germinar a cada minuto, o dia inteiro, o mês inteiro, pra desfrutar dessa glória de amanhecer. A noite é uma circunstância. O dia é a minha essência vasta e inteira”.
Responderá quem se julgar capaz.