Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Combustível limpo em política

29/03/2016 às 18:57.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:41

Não se esquece o papelão do advogado de José Genuíno, Luiz Fernando Pacheco, que interrompeu uma sessão do STF, tentando intimidar os ministros e mudar a pauta, para dar prioridade ao pedido de prisão domiciliar de seu cliente. Sob efeito de álcool, teve de ser removido pelos seguranças do plenário. Um vexame na Suprema Corte.

O ministro de Paracatu, Joaquim Barbosa, negro com todas as honras, agora aparece pouco em cena, mas não se omite. Em outubro de 2013, na Conferência de Jornalismo Investigativo, no Rio de Janeiro, ainda presidente do STF, respondeu às perguntas sempre indiscretas dos repórteres. Sobre o pleito presidencial que se aproximava, o de 2014, disse: “O quadro político-partidário no Brasil não me agrada nem um pouco”. Tinha motivos que o tempo referendou.

Bem humorado com a imprensa, não deixou sem resposta qualquer questionamento. Reiterou a necessidade de reforma política, criticou o número “assombroso” de legendas e a “mercantilização” das siglas, revelou-se em oposição ao voto obrigatório e, finalmente, contra o “coronelismo e mandonismo” na estrutura interna dos partidos, o que evidentemente o distanciará de alguns deles, caso admita lançar seu nome ao Planalto.

Sobre o que há hoje, disse Barbosa: “É a natureza tortuosa do nosso sistema político movido por um combustível nada limpo, que é o dinheiro de origem duvidosa, que tem causado a grande desafeição do cidadão para com a política”.

Chegou a hora de o país demonstrar que identificou seus erros, o crime dos que ocupam importantes cargos na administração pública, que já se conhecem os caminhos da corrupção, seus meandros, os métodos de atuação das quadrilhas organizadas. A experiência do mensalão e do petrolão, das várias operações deflagradas por autoridades competentes, mostra que o Brasil já sabe enfrentar o inimigo. 

Imprescindível pensarmos quem ocupará os mais altos postos da República, a partir de 2018, ou mesmo antes, se confirmado o impedimento de Dilma Rousseff. Se não se encontrar em outros segmentos de alto nível candidatos à chefia do Executivo, pode-se talvez identificá-los no seio da magistratura.

Castigar os transgressores da lei é essencial nesta hora e nas que chegam a toda velocidade. Cumpre eliminar os vícios, erros e crimes cometidos. Em outras palavras, precisamos de “instituições que facultem o controle do exercício do poder, antes que os malfeitores consigam apagar os seus rastros”, como disse, em artigo, o advogado Aristóteles Atheniense.

A tarefa é difícil, tal a longa e profunda prevalência do mal no país. Aliás, o próprio Aristóteles registrou: “A substituir o quadro atual, a nossa democracia, antes de ser um sistema político, não passará de um “arranjo” que se presta a satisfazer interesses pessoais com o uso da máquina pública”. E do erário.

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